3 – A Escola Waldorf como organismo social

 

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Escolas comunitárias

por Rubens Salles

Por princípio, as escolas Waldorf são escolas comunitárias, criadas por iniciativa de um grupo de pais e professores. Apenas alguns pequenos jardins de infância são mantidos por iniciativa particular independente, e algumas escolas maiores que começaram como escolas particulares, acabaram tornando-se associações, com o passar do tempo.

Geralmente um grupo de pais e futuros pais formam um grupo de estudo sobre a pedagogia e a antroposofia, e neste processo coletivo acaba amadurecendo o impulso de se criar uma nova escola, mas não há uma receita pronta para isso. O formato jurídico é o de uma associação de direito civil sem fins lucrativos, formada por pais e interessados, e que será a mantenedora da escola. Como organismo social vivo e autônomo, a escola Waldorf organiza-se da seguinte forma:

 

Gestão pedagógica independente

“Uma escola livre é aquela que permite a professores
e educadores integrar na educação tudo aquilo que,
a partir do seu conhecimento do ser humano, a partir
do seu conhecimento do mundo e a partir do seu amor
à criança, consideram essencial.”
                                                                      Rudolf Steiner

A vida espiritual na escola é de responsabilidade dos professores, ou seja, o corpo docente atua com total autonomia pedagógica, que abrange os âmbitos individual e coletivo:

Âmbito individual – Em uma escola Waldorf os professores têm liberdade para planejar como serão ministrados os conteúdos da educação. Livre de programas pré-formatados, apostilas e manuais de ensino, a atuação pedagógica é uma responsabilidade individual do professor.

Esta liberdade não significa que as matérias exigidas pelos programas oficiais de ensino não sejam contempladas. Significa a forma como serão ensinadas e o momento, assim como a inclusão de matérias adicionais, principalmente no âmbito das artes e dos trabalhos manuais. O professor trabalha os conteúdos curriculares a partir de seu conhecimento sobre o desenvolvimento humano, sua visão de mundo, seu conhecimento sobre a pedagogia e seu conhecimento sobre o aluno. Existe a figura do tutor, um professor com mais experiência que ajuda e orienta professores mais novos, que periodicamente os acompanha em sala de aula.

“A partir da relação conscientemente vivenciada entre professor e alunos, a matéria é configurada de maneira a corresponder à conjuntura momentânea, de tal modo que ofereça o melhor estímulo possível à atividade pessoal dos alunos em seu desenvolvimento. Para uma medida pedagógica, também precisamos sobretudo de fantasia, a dádiva de tomar a medida certa na hora certa, a partir da percepção do todo”.(1) Heinz Zimmermann

Âmbito coletivo – Uma escola Waldorf não tem a figura do diretor ou coordenador pedagógico. As decisões relativas à pedagogia são tomadas pelo conjunto dos professores. Assuntos são discutidos semanalmente na Conferência Pedagógica, na qual todos os professores participam. Nela são discutidos assuntos relativos a classes inteiras, ou a alunos em particular, e todo professor pode solicitar ajuda e orientação aos demais. Desta forma cria-se uma consciência coletiva, que ajuda a resolver eventuais dificuldades pedagógicas que possam aparecer. A participação na Conferência Pedagógica é um recurso fundamental para o aprimoramento constante do professor e para sua integração no organismo vivo que é uma escola Waldorf.

O órgão central do corpo docente é a Conferência Interna, e representa o coração da escola. Deve estar a par de tudo que acontece, delibera sobre os assuntos que demandam sigilo e toma as decisões principais. Dela participam os professores dispostos a arcar conscientemente com a responsabilidade espiritual da escola, geralmente já com algum tempo de casa. A fixação de metas, a constante autocrítica do corpo docente, a contratação e demissão de professores, a distribuição das classes e dos cargos pedagógicos, figuram entre os assuntos reservados à Conferência Interna. Também pode delegar poderes a um ou mais membros, que ficam responsáveis por tarefas específicas, podendo tomar decisões em relação a elas.(2)

Além das Conferências Pedagógica e Interna, por decisão e delegação destas são criadas comissões para tratar dos diversos assuntos administrativos que competem ao corpo docente, como comunicações com os pais, transporte escolar, organização de festas e eventos, reformas e construções, relações com o Conselho de Pais e com a Associação Mantenedora etc. Há sempre um esforço para que as decisões sejam tomadas por unanimidade. Evidentemente não há um formato único para esta organização, que pode variar de uma escola para outra, mas a responsabilidade pela gestão pedagógica deve ser exclusiva do corpo docente.

 

Gestão administrativa

As escolas Waldorf são criadas a partir da constituição jurídica de uma associação sem fins lucrativos, de acordo com a legislação de cada país. Esta associação é formada por iniciativa de pais interessados na constituição da escola, por professores e apoiadores, e será a mantenedora da escola, proprietária de seus bens e empregadora de seus colaboradores. Além de poder receber apoios, patrocínios e doações de recursos, bens móveis e imóveis, a mantenedora também define, em conjunto com o corpo docente, a política de remuneração dos recursos humanos da escola. Sua diretoria é responsável pelo relacionamento com as autoridades de ensino e outras, e por todos os atos jurídicos e administrativos da escola. Tem ainda a responsabilidade de zelar para manter a escola com o mesmo espírito com que foi criada.(3)

 

A participação dos pais

Antes de terem seus filhos matriculados em uma escola Waldorf, os pais passam por entrevistas com professores, em que são informados sobre a pedagogia, e de que forma podem ajudar os professores na formação de seus filhos. As escolas também mantêm dias de visita para interessados, quando têm a oportunidade de conhecer as instalações e assistir a palestras sobre a pedagogia e a forma de funcionamento da escola.

Em algumas escolas é formado um Conselho de Pais, geralmente constituído por delegados representantes de cada classe, e que elabora seu próprio estatuto, podendo haver grupos de coordenadores para assuntos específicos. Este Conselho trata dos assuntos de interesse dos pais, como taxas, campanhas financeiras e organização de festas. Em muitas escolas os pais se tornam membros da associação mantenedora automaticamente, assim que matriculam seus filhos.

Além da participação institucional, há as reuniões pedagógicas dos pais de cada classe com os professores de seus filhos, realizadas, no mínimo, uma vez por semestre. Muitos pais também ajudam nos bazares, festas e exposições na escola, ou como acompanhantes das classes em viagens e excursões.

A escola Waldorf procura espelhar os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, e pressupõe uma organização social que atue com autonomia e responsabilidade, amparada comunitariamente por pais e professores. Não é um caminho fácil para ambos, se compararmos com o nível de comprometimento que a maioria dos pais e professores têm hoje com as escolas, mas certamente é muito mais rico.

As escolas Waldorf pertencem às comunidades que as criam. Neste sentido, podemos considerá-las como escolas públicas de fato, diferentes daquelas que nos acostumamos a denominar assim, mas que são, na verdade, escolas estatais, onde os professores são obrigados a seguir currículos mais rígidos e “sistemas de ensino” pré formatados.

 

Bibliografia

  1. ZIMMERMANN, Heinz. – As Forças que Impulsionam a Educação, 1997, p. 12.
  2. LANZ, Rudolf. Pedagogia Waldorf, 1990, p. 166
  3. Idem op. cit., p. 168.

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