A Espada de Siegfried

 

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Peça de Ruth Salles sobre um mito germânico

Esta peça conta um trecho do mito germânico¹ do herói Siegfried, de quando ele é educado pelo anão Regin (pronuncia-se Rêguin) e luta contra o dragão Fafnir para recuperar o tesouro dos anões. Por fim, ele liberta a donzela que dorme cercada pelo fogo.

Esse mito tem a ver com o caminho do ser humano, que sai pela floresta do mundo, desenvolve sua mente (a cabeça grande do anão), domina seu lado emocional, suas paixões (o dragão), recuperando o tesouro dos anões, que são, na verdade, os conhecimentos acumulados pela mente. Só então ele pode ir ao encontro de sua alma, de sua essência verdadeira (a donzela). Nesse trecho da peça, os versos do trabalho dos anões são um exercício de dicção e também servem para desenvolver a vontade, na força das consoantes.

O vídeo abaixo mostra uma classe de 4° ano apresentando um exercício de ritmo com o texto da peça. Uma variação muito interessante criada pela professora e executada pelos alunos.

PERSONAGENS:
Coro dos Narradores (que é, na verdade, constituído pelas personagens)
Sigmund, seu pai Volsung e outros familiares (quando se destacam do coro para a cena, são personagens mudos).
Odin, o deus (igualmente mudo em cena) – disfarçado com uma capa e grande chapéu, além de trazer a espada.
As três Nornas (seres mitológicos que representam Passado, Presente e Futuro) – trazem os fios com que tecem, ou algum tipo de pano rendado.
Siegfried, filho de Sigmund.
Sua mãe.
Regin e seus anões
Fafnir, o dragão (várias crianças compõem Fafnir).
Os sete Pássaros.
Chamas que cercam a donzela (várias crianças)
Donzela.

INSTRUMENTOS:
flauta e tambor, tocados por alguns dos Narradores.

OBJETOS:
A espada de Odin; os fios das Nornas; o pedaço de tronco no meio da sala de Volsung; as três espadas que se quebram e a que não se quebra (esta pode ser a mesma do início da peça); podem ser imáginários o martelo e a forja de Regin, assim como a pá com que Siegfried cava o fosso.

 

NARRADORES (cantam):
“Há tanto, tanto tempo,
no tempo que o vento
varreu da memória,
passou-se a história
da espada!
Espada cravada
no tronco plantado
no centro da sala
da casa de Volsung!
Volsung!”
(falam):
– Volsung!…
O herói gerado
pelo deus Odin
na terra dos homens…

(Os narradores tornam a falar. Então, a família de Sigmund se destaca do coro e vai-se movimentando para o centro da cena.)

NARRADOR 1:
– Num dia festivo,
ali se encontravam
Volsung e seus filhos,
e mais habitantes
de terras distantes.

NARRADOR 2 (enquanto Odin aparece):
– E então, de repente,
no centro da sala,
alguém aparece:
é Odin disfarçado!

NARRADOR 3:
– Sim! Odin!
E crava a espada  (Odin crava a espada)
no velho carvalho
do centro da sala.

(Enquanto os narradores falam, os homens que estão ali tentam tirar a espada do tronco.)

NARRADORES:
– Se um homem bem forte
pudesse arrancá-la,
com ela ficava.
Oh, quantos tentaram!
Ninguém conseguiu?

(Sigmund consegue tirar a espada e a levanta enquanto os narradores falam)

NARRADORES:
– Sigmund! Sigmund!
O jovem filho de Volsung!

(Sigmund e os outros movimentam-se representando os acontecimentos narrados)

NARRADORES:
– Graças à espada cravada,
seus feitos ficaram famosos.
Aonde ele ia, vencia.
Os anos passando lutando,
um dia morreu esse herói.
A espada encantada partiu-se.
A esposa, com todo o cuidado,
guardou cada um dos pedaços.

(O grupo dos narradores vai-se desfazendo. À esquerda ficam a mãe de Siegfried e seus familiares. Saem do coro as três nornas, depois, aos poucos, os anões, Siegfried, e mais tarde os pássaros, as chamas e a donzela.)

NORNAS (tecem levemente com os fios):
– Tecemos, tecemos, trançamos os fios,
tecemos a teia de todo destino.
Passado, Presente, Futuro,
cuidamos da ordem do mundo.

NORNA 1 (enquanto as outras duas tecem):
– Falemos, irmãs, falemos
do que sabemos
de tanto que tecemos!

NORNA 2 (enquanto as outras duas tecem):
– Eu sei dos deuses que voam nas nuvens.
Odin!
Seu olho é o sol. Seu manto é o céu.
Pelo arco-íris desceu à terra
e gerou entre os homens os heróis!

NORNA 3 (enquanto as outras duas tecem):
– Eu sei dos anões que vivem na escura floresta.
Regin, o ferreiro, quando foi roubado
do ouro guardado,
viajou por tudo,
ensinando aos homens a ciência do mundo.
Regin, o ferreiro trabalha na forja.   (Regin e os anões, à direita, trabalham)
Só pensa no ouro roubado por Fafnir,
gigante terrível!.

NORNA 1 (enquanto as outras duas tecem):
– Eu sei que Fafnir agora tem a forma de um dragão
e guarda a entrada da gruta onde está esse tesouro.
Será que algum dia alguém vai conseguir derrotá-lo?

(As nornas de repente param de tecer e olham nos fios.)

NORNA 1:
– Vejam! Nasce um herói!

NORNA 2:
– É Siegfried, o filho de Sigmund!

NORNA 3:
– E cresce… Cada vez mais forte!

NORNA 1:
– Vamos tecer em silêncio.
O jovem já se prepara para sair pelo mundo!

SIEGFRIED (entrando animadamente):
– Eu quero partir!
Partir para ver como é a floresta! (vai caminhando)
Como é fechada, como é espessa,
como se transforma a cada passo!
Eu tenho pressa
de atravessar a floresta!

(Ele pára ao encontrar os anões, que cantam no ritmo do trabalho de Regin.)

ANÕES (cantam enquanto Regin malha o ferro na forja):
“Regin, Regin, trabalha na forja,
na fornalha e na bigorna!
Malha ferro o ferreiro, na forja,
dá-lhe fio e dá-lhe forma!” (param ao ver Siegfried)

REGIN (dirigindo-se a Siegfried):
– Eu sei quem é você: é Siegfried, o novo herói, filho de Sigmund.

SIEGFRIED:
– Velho anão que tudo sabe. Ensine-me todas as suas artes!

(Enquanto os anões falam no ritmo, Regin e Siegfried fazem os movimentos que mostram o aprendizado.)

ANÕES:
– Aprenda com Regin
as artes que sabe:
segredos de tudo
que vai pelo mundo.
Na forja, no ferro
aprenda a forjar
o fio e a folha
na força do fogo!

(Regin continua os movimentos, enquanto as nornas falam, olhando seus fios.)

NORNA 1:
– Vejam! O jovem Siegfried está com Regin.
É Regin ensinando-lhe tudo!

NORNA 2:
– Está contando agora as histórias do início do mundo…

NORNA 3:
– Sim, fala de Fafnir, o gigante,
e do tesouro roubado, guardado na gruta…

AS TRÊS NORNAS (pausadamente):
– Fafnir,
terrível
dragão
invencível!

NORNA 1 (assustada):
– Regin quer que Siegfried o destrua!

AS  TRÊS (com ênfase):
– Mas Siegfried não possue espada alguma!

SIEGFRIED:
– Não tenho medo de Fafnir, não tenho medo de nada.
Mas, para poder lutar, preciso de uma espada!.

REGIN:
– Para Siegfried, filho de Sigmund,
nenhuma de minhas espadas serve.
Volte à casa de sua mãe.
Peça a ela os pedaços da espada de seu pai,
aquela espada encantada que foi presente dos deuses!

SIEGFRIED (começando a andar para a esquerda):
– De onde vim… é para lá que volto.
Vou receber de minha mãe o que me falta.

(A mãe de Siegfried lhe entrega os pedaços da espada de seu pai. Ele volta a Regin e lhe entrega tudo. Enquanto Regin trabalha, os anões cantam ou apenas falam no ritmo. A cada dois versos, a espada é entregue a Siegfried, que a experimenta, e ela se quebra. Isso acontece por três vezes. Ver como criar essa cena. As crianças que já a representaram gostaram muito desse trecho.)

ANÕES (cantam ou falam):
“Regin, Regin trabalha na forja,
na fornalha e na bigorna!    (a espada se quebra pela primeira vez)
…………………………………
Malha ferro o ferreiro na forja,
dá-lhe fio e dá-lhe forma!    (a espada se quebra pela segunda vez)
………………………………….
Malha ferro o ferreiro na forja,
dá-lhe fio e dá-lhe forma!”   (a espada se quebra pela terceira vez)

SIEGFRIED:
– Com todo o seu saber, velho anão,
você não consegue forjar uma espada que não se quebre em minha mão?

REGIN:
– Para sua espada,
meu saber não basta.
Forje você mesmo, ó Siegfried,
sua própria espada!

REGIN e ANÕES (falam no ritmo, enquanto Siegfried forja a espada)
– Siegfried
forja
o ferro
na forja.
Dá forma
à folha,
afia
o fio
na força
do fogo!

(Siegfried experimenta a espada, e ela não se quebra.)

REGIN e ANÕES (gritam no ritmo):
– Ferre
o ferro
na fera!
Ferre
o ferro
em Fafnir!!

(Siegfried anda pela floresta. As nornas falam como que lendo nos fios.)

NORNA 1: – Lá vai Siegfried em busca de Fafnir!

NORNA 2: – Odin inspira a ele a ação certa!

NORNA 3: – Ele vai cavar um fosso bem no caminho
por onde a fera passa em busca de água. (Siegfried cava o fosso)

AS TRÊS NORNAS (exclamam com força, olhando nos fios): – Fafnir!!

(Siegfried se deita onde cavou o fosso e, quando Fafnir está passando por cima dele, ele o ataca. Fafnir cai. Siegfried molha a mão no sangue da espada e a encosta na boca. Sete pássaros se aproximam.)

SIEGFRIED (admirado):
– Oh!…
O sangue do dragão em minha boca abre meus ouvidos para a voz das aves!
Posso entender tudo o que dizem os sete pássaros que vejo!

PÁSSARO 1:
– Existe um círculo de chamas
nos rochedos de uma montanha.

PÁSSARO 2:
– E, pelas chamas escondida,
há uma donzela adormecida.

PÁSSARO 3:
– Há tantos anos a esperar
quem a consiga libertar.

PÁSSARO 4:
– Será que alguém não terá medo
de subir àquele rochedo?

PÁSSARO 5:
– Não sei se existe um corajoso
que consiga romper o fogo.

PÁSSARO 6:
– Existe um, aqui na terra:
este herói que matou a fera!

PÁSSARO 7:
– Se nos seguir aonde formos,
achará os rochedos do fogo.

(Siegfried segue os sete pássaros e chega a um local da cena onde as chamas cercam a donzela adormecida. Ele afasta as chamas com sua espada e rompe os laços que prendem a donzela. Dá-lhe a mão, e ela se levanta.)

DONZELA:
– Quem venceu o fogo por amor de mim
e soltou os laços do meu encantamento?

SIEGFRIED:
– Fui eu, Siegfried, filho de Sigmund. Minha espada rompeu seu sono.

DONZELA:
– Siegfried! Mesmo adormecida, eu estava à sua espera.

SIEGFRIED:
– Donzela!
Minha mão e minha espada vieram despertá-la para a vida!

(A peça pode terminar com todos cantando o tema inicial: “Há tanto, tanto tempo”.)

 

*1: STURLASON, Snorre. Edda em prosa: textos da mitologia nórdica. Rio de Janeiro: Numen, 1993.

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