A Estrela de Belém

 

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peça de Ruth Salles

Peça de Natal baseada num conto de Elisabeth Goudge¹. Um pastorzinho sai em busca da fonte de desejos a fim de pedir ajuda para sua família, que é muito pobre. No caminho, encontra-se com os Reis Magos, que se perderam de sua estrela e tentam chegar ao presépio. Na cena do presépio, pode também ser cantada uma canção de Natal conhecida.

PERSONAGENS:
Coro de pastores, o pastorzinho Davi, seu pai, sua mãe, seu irmão, suas duas irmãs; São Miguel arcanjo, ovelhinhas (optativo); Reis Baltasar, Melquior e Gaspar; Elias e Tobias (amigos de Davi); José e Maria; a estrela de Belém (optativo).

O coro pode estar ao fundo, ocultando a cena do presépio. O pai de Davi está deitado no chão, a um canto, com a cabeça no colo da mãe, que está sentada. Os irmãos de Davi também podem estar sentados ao lado. Davi vem chegando do pastoreio.Terminada a cena da família de Davi, toda ela, menos Davi, une-se ao coro. As personagens que forem atuar em cena saem do coro quando chegar sua vez.

CORO (canta, quando Davi vem chegando com seu cajado e sua flauta):
“Pastorzinho, pastorzinho,
com seu cajado na mão,
pastoreia as ovelhinhas,
da flautinha tira o som.
Cai a noite devagar.
As estrelas vão brilhar,
as estrelas vão brilhar.”

DAVI (toca a flauta, depois esfrega os braços e bate os pés no chão):
– Sinto fome e sinto frio.
Como a noite está gelada… (olha para os pais)
O meu pai está doente,
com minha mãe a seu lado. (olha para os irmãos)
Meus irmãozinhos se queixam,
todos bem esfomeados.
Ah, se eu tivesse dinheiro,
meu pai já estava curado.

IRMÃO:
– Também teríamos lenha
para esquentar nossa casa.

IRMÃ 1:
– E roupa mais aquecida…

IRMÃ 2:
– E muita, muita comida…

DAVI (toca uma nota na flauta, de repente para):
– De repente lembrei! De repente lembrei
da fonte dos desejos na estrada de Belém!
Vou lá agora mesmo! Vou pedir com fervor
a ajuda de Deus em nosso favor!

O PAI (erguendo-se um pouco):
– Não vá, Davi, não vá. Já está ficando escuro.
E o pedido na fonte só vale à meia-noite.

A MÃE:
– Para valer é preciso
ter um coração bem puro.
E então se reflete n’água
a imagem do que é pedido,
seja agasalho ou dinheiro,
seja saúde ou comida.

DAVI (pulando de entusiasmo):
– Eu vou! Eu vou!
Não se preocupem comigo.
Se for preciso
eu sei onde achar abrigo.
Eu sou pastor,
sei andar por todo lado!
Adeus!

PAI (deitando-se de novo, cansado):
– Adeus, meu filho!

IRMÃOS:
– Adeus, Davi!

MÃE:
– Tenha cuidado!

CORO (fala dando expressão de perigo e medo):
– Lá vai Davi
na noite alta,
silenciosa
e tão gelada.
A noite esconde
ladrões no mato,
feras na sombra,
fundos buracos…

(Enquanto o coro fala, alguns de seus membros mexem ramos de árvores com as mãos, enquanto Davi faz movimentos de medo e, depois, de espanto ao ouvir uma flauta ao longe e vozes exclamando baixinho.)

CORO (falando baixinho):
– Glória a Deus! Glória a Deus!

DAVI:
– Que noite mais escura…
Ouço vozes cantando…
Parece que as montanhas estão se alegrando.
Ouço asas no ar. Só se forem de anjos! (Vê umas ovelhinhas)
Aqui sempre acampam
pastores meus amigos.
Talvez eu ache algum que queira ir comigo!
(corre de um lado para o outro, chamando):
– Tobias! Elias! Tobias! Elias! (para, desanimado, e de repente enxerga o arcanjo São Miguel sentado numa pedra)
É um desconhecido… Quem será ele?
E as ovelhinhas não têm medo dele!

SÃO MIGUEL:
– Olá, pastorzinho! Que noite boa e linda!

DAVI:
– Olá, meu senhor! Que noite linda e fria!
Onde estão os pastores Elias e Tobias?

SÃO MIGUEL:
– Foram ver o Menino nascido em Belém.

DAVI (admirado):
– Um menino em Belém?
E eles não me levaram?
E as ovelhas ficaram
aqui sem ninguém?
Fizeram muito mal!

SÃO MIGUEL:
– Fizeram muito bem.
Das pequenas ovelhas
sou eu que estou cuidando.

DAVI:
– O senhor é um só.
E os ladrões são um bando.

SÃO MIGUEL:
– Eu creio que consigo enfrentar todos eles.

DAVI:
– O senhor é guerreiro?

SÃO MIGUEL:
– Já lutei muitas vezes.

DAVI:
– Contra quem?

SÃO MIGUEL:
– Meu rapaz,
lutei contra o diabo e os anjos infernais.

DAVI (ofuscado por uma luz que desce do céu sobre o arcanjo):
– Que luz desce do céu!

SÃO MIGUEL:
– O meu nome é Miguel. E o seu?

DAVI:
– É Davi.

SÃO MIGUEL:
– E aonde você vai?

DAVI:
– À fonte dos desejos, implorar a Deus Pai
agasalho, alimento e a cura de meu pai.

SÃO MIGUEL:
– Então vá, pastorzinho.

DAVI:
– Não queria ir sozinho…

SÃO MIGUEL:
– Deus será o seu guia.
Se você sentir medo, toque sua flautinha.
Ela é a voz da confiança na proteção divina.
Vá!

DAVI:
– Eu vou, meu senhor. (caminha tocando a flautinha)

(São Miguel se une ao Coro. Davi segue e chega à fonte, onde para.)

CORO (fala, enquanto Davi reza em silêncio e olha para o fundo):
– Davi reza na fonte com toda a devoção.
Nem pensou nos ladrões
e nem na escuridão.

(O rei Baltasar se destaca do coro, fica atrás de Davi e olha para a água da fonte. Os reis Melquior e Gaspar vêm vindo em seguida.)

DAVI (olhando a água, espantado):
– Oh, céus, que quantidade
de moedas de ouro eu vejo refletidas!
E é ouro de verdade! (vê os reis atrás dele, assusta-se e grita):
– Meus senhores, desculpem!

BALTASAR:
– Não grite. Não se assuste.
Sou o Rei Baltasar.

DAVI:
– Rei?!!

BALTASAR:
– Viemos de longe.
Este é o Rei Melquior,
e este é o Rei Gaspar.

DAVI (pensando):
– Muito estranha esta noite…

GASPAR:
– Não tenha medo, não. Mas diga, por favor,
por que você olhava esta fonte, pastor?

DAVI:
– Eu fazia um pedido.

GASPAR:
– É a fonte dos desejos?

DAVI:
– É, e vemos no fundo a imagem do pedido.

BALTASAR:
– E você viu o quê?

DAVI:
– Vi moedas brilhando. (desanimado)
Era o senhor chegando.

MELQUIOR:
– Nós perdemos de vista a nossa estrela-guia.
Será que, se eu rezar
com todo o meu fervor,
a estrela se reflete lá no fundo, pastor?

DAVI:
– Só se o senhor tiver
um coração bem puro.

MELQUIOR:
– Então é o mais jovem
dos três que deve olhar. (puxando Gaspar para a fonte)
Faça agora o pedido e olhe bem, Gaspar.

GASPAR (primeiro sem entusiasmo, depois com espanto):
– Vejo as mesmas estrelas
de sempre, refletidas.
Não… Sim! Que estrela grande!
É ela que cintila!

(Os reis e Davi olham a estrela no céu; ela pode estar segura por uma menina, num plano mais alto.)

CORO:
– Os reis viram lá no céu
a estrela que os guiava.
Suspensa sobre Belém,
fulgurante cintilava.

BALTASAR:
– Belém! Está em Belém
o fim de nossa jornada.

DAVI:
– Por quê?

MELQUIOR:
– Lá nasceu um Rei,
que nós vamos adorar.

DAVI:
– Até Belém eu sei ir e posso guiar os três.

(Vão caminhando, enquanto Davi toca a flautinha. O coro se afasta um pouco para que apareça o estábulo, onde estão José e Maria diante do Menino na manjedoura.)

DAVI (espantado, para os reis):
– Este é um lugar muito pobre,
onde um rei não nasceria.
Um estábulo!

GASPAR:
– Olhe bem.

DAVI (vê seus amigos pastores oferecendo presentes):
– Oh! Oh! Tobias! Elias!

TOBIAS (espantado):
– Olhe, Elias! Olhe só!
É Davi quem está entrando!
Três reis também vêm chegando!

ELIAS:
– Mas, nem parece Davi
– o pastorzinho levado, tagarela, endiabrado –
e é ele mesmo,Tobias!
Que trabalho ele nos dava
com as suas correrias!

(Os pastores se afastam para dar lugar aos reis. Davi não consegue chegar até eles. Os reis oferecem seus presentes em silêncio.)

DAVI (para si mesmo):
– Nada tenho para dar.
Nem joia ou presente fino.
Só tenho minha flautinha
para dar ao Rei Menino.

(Ele se ajoelha e entrega a flauta a José, enquanto os pastores tocam flauta; pensar se o Coro canta nessa hora uma canção de Natal. O Coro torna a fechar a cena do presépio. Davi se vê sozinho na estrada.)

DAVI (olha para todos os lados):
– Eu me perdi dos três Reis.
Em nenhuma parte os vejo.
E agora volto sozinho.
Deus não ouviu meu pedido
lá na fonte dos desejos.
Sinto fome e sinto frio (esfrega os braços)
e vou voltar para casa
sem nada ter conseguido…

BALTASAR (destacando-se novamente do coro
com Gaspar e Melquior):
– Quem deu de tudo o que tinha
agora é presenteado
no valor de seu presente
mil vezes multiplicado. (entregam a Davi um saquinho com moedas de ouro)
Voltamos aos nossos reinos,
e você volte a seu lar.
E desse encontro bendito
vamos sempre nos lembrar.

DAVI (olhando as moedas):
– Oh! Oh! Oh! Muito obrigado!
Não vamos mais sentir frio!
Não vamos mais passar fome!
Meu pai vai ficar curado!

(Davi se une ao Coro por um lado, e os reis pelo outro.Todos cantam a canção do início com o fim modificado.)

CORO (canta):
“Pastorzinho, pastorzinho,
com seu cajado na mão,
pastoreia as ovelhinhas,
da flautinha tira o som.
Nasce o dia devagar,
que o sol vem clarear,
que o sol vem clarear!”

 

*1: GOUDGE Elisabeth. As Mais Lindas Histórias de Natal. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1952.

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