Calendário do Advento em contos – 4ª semana

 

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7 contos de Georg Dreissig

O velho Porteiro

1. UM PUNHADO DE PALHA

Certa noite, Maria e José bateram na porta de um camponês e pediram abrigo para passar a noite. Mas o camponês era um homem rabugento e duro de coração, que não gostava de ajudar sem ser pago. Mas como ele viu que não conseguia tirar nada daquelas pessoas pobres, mostrou-lhes um canto do quintal e disse: “Ali, onde o telhado sobressai, vocês podem deitar-se no chão.” Maria, então, perguntou baixinho: “E o senhor não teria um punhado de palha, para não precisarmos dormir na terra fria?” Os olhos do camponês brilharam encolerizados. Mas depois ele cedeu: “Bem, um punhado eu dou, mas nada mais.” E ele mesmo foi até o celeiro e puxou do imenso monte de palha um punhado, deu a José e bateu a porta.

José olhou preocupado aquele pouquinho de palha. Que faria ele só com isso? Maria, porém, tomou-as delicadamente de sua mão e começou a espalhá-las no chão, palha por palha. E vejam só: a palha deu para fazer um leito para os dois, e até para o burrinho ainda sobrou um pouco. Assim, os três puderam até dormir bem.

Na manhã seguinte, antes de partirem, Maria e José agradeceram ao hospedeiro pouco amável. Este resmungou e os deixou partir. Quando ele mesmo foi mais tarde ao quintal, notou novamente as palhas, que ainda estavam espalhadas onde Maria e José haviam dormido, aqui uma, lá outra, só mesmo um punhado. Ele já queria ficar zangado, pois os dois hóspedes não tinham arrumado as palhas. Mas quando observou mais atentamente, viu que elas eram puro ouro. Pegou uma e balançou-a na mão. Com a outra mão ele bateu com a testa e exclamou: “Você é um bobo! Deveria ter deixado essa gente dormir dentro do celeiro, pois assim toda a sua palha seria agora de ouro!” Bom, agora era tarde demais. Mas, pelo menos, ele resolveu vender por um bom dinheiro as poucas palhas que ficaram ali. O camponês, duro de coração, as envolveu em um pano e caminhou até a cidade mais próxima. Depois de muita pechincha, ele achou um ouvires, que lhe pagaria um bom preço. Satisfeito com o lucro que tinha conseguido com o pobre abrigo que oferecera, tirou as palhas do pano. Como ele ficou perplexo e como o ourives riu na sua cara, quando apenas palhas comuns apareceram de dentro do pano!

Assim, o camponês só trouxe para casa essa caçoada, que se manteve nele por longo tempo, por causa da dádiva da sagrada família, que ele gostaria de ter vendido.

 

2. A SOPA QUENTE DA MULHER POBRE

Rebeca era a mulher mais pobre da aldeia. Ela só tinha a roupa do corpo, o que era muito pouco, pois a saia e a blusa estavam esfarrapadas e as meias e os sapatos cheios de buracos. Todos a conheciam, e Rebeca conhecia todas as pessoas da aldeia e sabia onde podia pedir algo quando estava com fome e onde era possível dormir abrigada, quando o duro inverno não deixava que passasse a noite ao ar livre. Ela vivia miseravelmente, mas estava acostumada e nem conseguia imaginar que pudesse ser diferente. Uma vez, um fazendeiro lhe disse que realmente tinha muita pena dela e ela respondeu: “Pelo menos sei que não sofro de algo que vocês sofrem!” E como ele a olhasse muito espantado ela continuou: “Eu peço esmola a todos vocês. Mas nunca veio alguém pedir-me alguma coisa!” E, com um sorriso maroto, pegou o pão que o fazendeiro lhe havia dado, prendeu-o debaixo do braço e foi embora.

Mas, naquele inverno em que aconteceu esta história que lhes quero contar, havia muita necessidade na região, e as pessoas mal tinham o suficiente para satisfazer a própria fome. A mendiga só a muito custo conseguia ajuda e tinha que bater em muitas portas, para conseguir uma pequena refeição. Um dia, Rebeca havia pedido um pouco de sopa quente, e o que lhe deram mal deu para encher metade de sua jarrinha. Quando se sentou à beira da estrada para comer, ela viu de repente se aproximarem um homem e uma mulher com um burrinho. Vocês já adivinharam: eram Maria e José em seu caminho para Belém. O homem parecia estar muito abatido, e a expressão no rosto pálido da jovem mulher era tão sofrida, que até Rebeca ficou com pena deles. “Ei, amigos!” – chamou ela – “por que estão abatidos e tão tristes? Que lhes falta?” José olhou em silêncio para ela, medindo de relance a jarra que ela tinha na mão. Maria, porém, respondeu baixinho: “Nada temos para comer, e por isso está difícil caminhar.” Rebeca perguntou: “Mas por que não compram alguma coisa?” “Não temos dinheiro para comprar comida.” – foi a resposta. “E por que não pedem?” – Rebeca quis saber. “Nós tentamos” – confessou Maria envergonhada – “mas ninguém quis dar alguma coisa.” A mendiga replicou: “É, eu sei. Os tempos estão ruins. Todos têm pouco. Olhem só o que me deram!” E mostrou-lhes a jarra com aquele pouquinho de sopa. E, de repente, teve uma ideia extraordinária, uma ideia que nunca lhe havia ocorrido em toda a sua vida. E ela perguntou cautelosamente: “Vocês têm alguma vasilha aí?” Sim, Maria e José tinham uma vasilha. “Então vamos repartir” – decidiu a mendiga – “minha sopa e sua fome.” José desempacotou sua vasilha, e Rebeca derramou nela um pouco de sopa, e depois mais um tanto. Sua própria jarra ficou vazia, mas ela segurou-a de tal modo que Maria e José não o notaram. Quando a pobre viu as duas pessoas famintas tomando a sopa, sentiu uma alegria como nunca antes havia sentido. Até mesmo esqueceu por alguns instantes sua própria fome.

Ah, Maria e José levaram só poucos minutos para acabar com a sopa, e novamente se puseram a caminho. Rebeca ainda ficou por longo tempo seguindo com os olhos os viajantes, que haviam ensinado a ela um sentimento que lhe era desconhecido e lhe dera tanta alegria. Por fim, quando se inclinou para pegar sua jarra vazia, viu que ela estava cheia até a borda com uma sopa deliciosa e quentinha, que lhe satisfez toda a fome.

 

3. JUNTO À FOGUEIRA DOS PASTORES

Nos campos diante dos portões da cidade de Belém, ardia uma fogueira. Em volta dela, sentados, alguns pastores se aqueciam, pois era inverno e as noites eram frias. Ao redor deles, em círculo, as ovelhas deitavam-se em calma e paz. Só os cães passavam sem cessar por entre o rebanho, e vigiavam. “Como seria bom” – suspirou de repente Samuel, o pastor jovem – “se não existissem mais lobos que ameaçassem o rebanho…” Jacó, porém, abanou teimoso a cabeça e respondeu ao companheiro: “Que adianta sonhar? Enquanto houver ovelhas, haverá lobos que as ameacem.” Aí, Elias, o velho, levantando a cabeça branca, olhou os dois com seus olhos claros e disse misteriosamente: “Quem sabe, quem sabe. Soube de uma profecia, que diz que um dia os lobos pastarão pacificamente com as ovelhas.” Samuel logo perguntou: “Quando será isso?” O velho balançou pensativamente a cabeça: “No livro está escrito que um dia o Filho de Deus nascerá como homem. Então acabará toda inimizade na Terra, e haverá paz entre os homens e os animais. Mas quando esse dia virá, ninguém sabe dizer.”

Pensativos, os pastores olhavam para o fogo. De repente, começaram a ouvir um lindo canto, tão suave, que lhes tocou o coração. Quando eles se viraram, vinham vindo pelo caminho que levava à cidade um homem velho e uma mulher jovem com seu manto azul, acompanhados por um burrinho. E a mulher cantava, cantava para a criança que carregava sob seu coração, e uma paz serena se espalhava pelas almas que a ouviam.

Os pastores continuaram a olhar a mulher, até ela desaparecer de suas vistas. Quando finalmente se voltaram de novo para a fogueira, notaram que também as ovelhas haviam virado a cabeça para Belém, e mesmo os cães haviam parado com sua corrida infatigável e escutavam, com as orelhas em pé. De repente, Samuel apontou cuidadosamente por sobre o rebanho e sussurrou: “Vejam! Ali! Não é nenhum dos nossos cães. É um lobo!” Os outros pastores seguiram seu sinal e concordaram com a cabeça. Sim, o lobo estava junto das ovelhas. Tal como estas, ele estava parado, tocado pela magia da canção, e olhava na direção de Belém. Nesse momento, iluminou-se o rosto do velho Elias e ele exclamou: “Agora mesmo achávamos que o milagre do qual falamos iria acontecer num futuro distante, e agora ele está bem próximo. O Filho de Deus vem ao mundo. O sinal é infalível: em paz, o lobo pasta com os cordeiros.” Samuel virou-se para o velho e perguntou: “O senhor acha que a jovem, que cantou tão lindamente, era a Mãe Divina?” Elias concordou com a cabeça e respondeu: “Acho, sim. Ela deve ser a Mãe Divina.” E nisso o velho pastor tinha toda a razão.

 

4. O VELHO PORTEIRO

Simeão, o velho porteiro, sentado à janela, observava o dançar dos flocos de neve e pensava em tempos passados. Ele já vivera noventa anos, e passara setenta vigiando os portões de Belém. De manhã, aos primeiros raios de sol que brilhavam no horizonte, ele abria os portões, e tornava a cerrá-los quando o último raio de sol desaparecia. Ele havia observado muitas pessoas entrando e saindo pelos portões e, com o tempo, aprendera a reconhecer se tinham bondade ou maldade no pensamento. Ultimamente, as forças o estavam abandonando, e só com esforço ele levantava as chaves pesadas; os portões enormes ele mal conseguia mover nos gonzos. Então, um homem mais jovem assumira seu posto. Simeão só vigiava agora um único portão, um que era pequeno, discreto, na face oriental dos muros da cidade. Esse portão, durante a sua vida, nunca fora aberto e tinha o nome de “A porta alta”. A chave daquele portão, seu antecessor lhe havia confiado quando ele ainda era jovem, ordenando-lhe que cuidasse para que o ferro da chave não enferrujasse. Simeão, porém, sem dúvida saberia reconhecer o tempo de abrir a “porta alta”. Assim, ele guardou a chave de ferro e cuidou dela durante anos e anos, mas nunca lhe veio o chamado para abrir a porta. Pensando nisso, o velho se levantou pesadamente de sua cadeira, andou poucos passos até o armário e retirou dele a chave. Depois, sentou-se de novo à janela e, enquanto observava o silencioso cair da neve, esfregava continuamente a pontinha de seu casaco de lã na chave de ferro e a polia, até que ela começou a brilhar como se fosse de prata. “Você saberá, quando vier o chamado.” – dissera-lhe seu antecessor. Quando Simeão se lembrava dessas palavras, sentia sempre um leve receio de um dia, talvez, ter de abrir a porta, mas não estar acordado para isso.

Então ele percebeu que, de repente, o céu começou a brilhar no Oriente, como se não estivesse oculto pelas nuvens de neve. A luz ficou cada vez mais clara, e nessa luz apareceu uma porta alta e dourada, que se abriu. Dessa porta alta e dourada saiu uma criancinha. Ela se virou e, amavelmente, acenou com sua mãozinha para o velho porteiro na janela, e começou a andar numa estrada invisível rumo à Terra. Enquanto isso, ela continuamente olhava para Simeão, que observava admirado esse acontecimento. De repente, porém, ele exclamou: “A porta alta! A criança está vindo para a porta alta, e eu aqui sentado, comendo mosca!” Tão rápido quanto pôde, levantou-se e, com seu casaco de lã, andou na neve até o muro oriental da cidade. Não encontrou ninguém em seu caminho. Com esse tempo, as pessoas preferiam ficar em suas casas. Mesmo não podendo mais reconhecer a porta dourada no céu, ele podia ainda imaginar seu brilho claro no Oriente. Enfim chegou até a porta alta, e finalmente pôde meter a chave prateada na fechadura. Esta se deixou abrir facilmente. E então se abriu o pequeno pórtico e se abriu a porta alta silenciosamente, e do outro lado estava a Criança. Com confiança ela estendeu a mão, e disse a Simeão: “Muito obrigado, porque você ouviu meu chamado e me abriu a porta. Também eu guardei o portão aberto para você. Veja!” Quando o velho porteiro ergueu os olhos, viu novamente a porta dourada do céu. Estava bem aberta, e uma estrada luminosa levava até ela. Aí, Simeão riu bem alegremente e começou a se aproximar da porta do céu. A criança o olhava, até que ele desapareceu.

Passaram-se alguns dias, até que as pessoas deram por falta do velho porteiro. Procuraram por ele, mas não o encontraram. Então, aconteceu que um dia apareceram estranhos na cidade, um homem com sua jovem mulher e um burrinho. O novo porteiro, porém, não os vira entrar e estava muito espantado. Por isso, ele foi até a porta alta; encontrou-a aberta e com a chave na fechadura. “Será que o velho Simeão ficou confuso da cabeça e abriu a porta antes de partir?” – resmungou o homem. E, fechando novamente a porta, levou consigo a chave. Ele não suspeitava que aquele, para quem a porta alta deveria ser aberta, já havia passado por ela.

 

5. DANIEL E A FLAUTA

Quando Daniel apareceu nas ruas de Belém e tocava sua pequena flauta, as pessoas não conseguiam deixar de ouvi-lo e de se alegrar. Apesar disso, Daniel era, na verdade, um menino digno de pena. Tinha, de nascença, o coração fraco, que não lhe permitia brincar com as outras crianças, sua perna esquerda mancava um pouco e, o que era mais lastimável, ele era cego. Nunca tinha visto o sol, o céu ou o mundo maravilhoso. Mas, quando tocava sua flauta, – e isso ele fazia por onde andasse – não havia nada de tristeza em suas melodias. Daniel era uma criança alegre, e sua alegria era contagiante.

Estava-se em pleno inverno, quando um dia as pessoas acordaram e, olhando pelas janelas, nada mais viram além de um véu cinzento. Toda a cidade de Belém estava envolta num nevoeiro esquisito que impedia toda visão; e até os becos e cantos conhecidos pareciam estranhos e irreais. Só uma pessoa não se afetava com isso: Daniel. Assim, nem o nevoeiro podia mantê-lo em casa. Justamente nesse dia, uma força o puxava para fora. Naquela época, não se festejava ainda o Natal. Mas a alegria que o menino sentia era exatamente a mesma que hoje sentimos, quando a festa luminosa se aproxima. Ele pegou sua flauta, e sua audição aguçada o levou com segurança para fora do portão da cidade. Ali, ele foi seguindo o muro até chegar à pedra na qual mais gostava de se sentar. Portanto, mesmo com o nevoeiro, ele se sentou e tocou em sua flauta: “Filha de Sião, alegre-se!” Ah, agora ele não era mais o pequeno menino cego, agora ele era uma banda de música de casamento, que tocava para o noivo real e sua jovem esposa. Ele o fazia com todo o ardor e nada notava do nevoeiro que ondeava em sua volta e tirava a visão das pessoas, para que… Sim, para que Maria e José pudessem encontrar a porta alta. Pois a profecia tinha de se cumprir: que eles entrassem na cidade por ela, e por nenhum outro lado.

Maria e José tinham perdido o caminho na espessa névoa e vagavam naquele mundo misterioso, sem saber onde estavam. De repente, seus ouvidos perceberam o canto da flauta: “Filha de Sião, alegre-se!”. Eles pararam e escutaram a melodia maravilhosa, e depois outra vez caminharam, seguindo a agradável música. “Que anjo nos estará guiando?” – perguntou a querida Mãe Divina. Foi então que eles viram aparecer o menino por entre a névoa, encolhido sobre a pedra e com a flauta nos lábios. Ali eles pararam, ouvindo com atenção a música, até que ela acabou. Daniel virou-se na sua direção e lhes perguntou: “Quem são vocês e o que procuram aqui?” José respondeu: “Somos pobres viajantes e estamos procurando o caminho para Belém.” “Pobres viajantes?” – perguntou o menino admirado. E parecia examiná-los atentamente, apesar de seus olhos cegos. Mas depois acrescentou: “O muro da cidade é esse aí. É só segui-lo que chegarão ao portão.” Naquele momento, realmente Maria e José conseguiram perceber o muro, como uma sombra escura. Agradeceram ao flautista e seguiram seu caminho. Este os levou à porta alta, àquele pequeno portão que havia sido aberto para eles e que tinha ainda a chave prateada na fechadura. Por ali eles passaram.

Cada vez mais longe, eles continuaram a ouvir a música da flauta, pois Daniel tocava sem parar. Ele tinha que tocar para expressar sua alegria, já que tinha visto algo maravilhoso! Havia muita luz em volta dele. E nessa luz ele conseguira perceber dois vultos, que levavam consigo uma Criança, uma criancinha, que lhe havia acenado: “Venha!” Sim, ele iria, quando chegasse a hora. Mas, por enquanto, tinha que tocar, como se a música pudesse expulsar toda a névoa e tirar dos homens toda a cegueira.

 

6. OS ESTALAJADEIROS DE BELÉM

Finalmente, depois de longa caminhada, Maria e José alcançaram Belém. Estavam cansados da longa viagem, e até mesmo o burrinho deixava a cabeça pendida de tão exausto. Mas onde encontrariam um albergue, um lugar onde pudessem ficar e uma cama para dormir? Foram de porta em porta, batiam aqui e ali, pediam aos diversos estalajadeiros que os deixassem entrar. Mas ninguém os quis receber, pois José era pobre e não poderia pagar muito pela hospedagem. “Vão-se embora,” – diziam sempre – “esta casa é minha, aqui vocês não entram!”

Já havia escurecido, e Maria e José ainda andavam pelas ruas, e o burrinho trotava cansado ao lado deles, espantado por não conseguirem onde ficar. Por fim, só havia mais uma estalagem na beira da cidade, uma casa pequena com um velho e carcomido estábulo no pátio. Sem muita coragem, José bateu na porta. Quando o estalajadeiro abriu, puderam ver logo que a sala estava cheia de gente, e quase não se atreveram a fazer o pedido. Mas Titus, o estalajadeiro, olhou-os com pena, percebeu que estavam exaustos, que precisavam de um abrigo. Coçou a cabeça e resmungou: “Que farei agora? Aqui estão duas pessoas e um burrinho, todos muito cansados, precisando de um lugar para dormir. Minha estalagem pode abrigar pessoas cansadas. Mas a casa está cheia. Até nos bancos há pessoas dormindo. Pensativo, Titus passou a vista pelo pátio já escuro. De repente, seus olhos brilharam, e ele exclamou: “Mas a lanterna já está acesa no estábulo! Quem sabe está justamente esperando por vocês! Sigam-me, homem, mulher e burrinho! Terão uma casinha só para vocês! Não é muito grande nem muito mobiliada. Mas lá vocês terão, pelo menos, um telhado sobre suas cabeças e palha para servir de cama.” E para onde o estalajadeiro os levou? Vocês já sabem! Para o estábulo que os ratinhos do Natal haviam arrumado tão bem, onde o boi Remus mastigava seu feno e uma estrelinha se escondera dentro da lanterna e espalhava sua luz amorosa.

Portanto, foi lá que se hospedaram Maria e José e também o burrinho que os seguira até Belém; e Remus, o boi, aceitou de bom grado a companhia. Finalmente haviam chegado, sim, finalmente podia… Sim, o quê? Finalmente a santa Noite de Natal podia descer sobre a terra!

 

7. O FILHO DE DEUS

Quando a Noite Santa se aproximou, tudo ficou bem quieto na Terra. Era como se o mundo prendesse a respiração. Nos céus, porém, os anjos olhavam para as mais altas esferas celestes, onde os querubins e serafins formavam um círculo em volta do trono de Deus. E aí aconteceu o que era há tanto tempo esperado, e tão ardentemente desejado: De repente o círculo se abriu, e o trono de Deus se tornou visível para todos os seres celestes. Do trono, porém, saiu Um, tão claro e luminoso, tão sereno e puro, que mesmo com línguas de anjos não seria possível descrever. Cordialmente, Ele olhou para o círculo de anjos, que só queriam, reverentemente, contemplá-lo. Então, Ele deu um passo para o lado, e o olhar sério e santo do Pai trespassou as esferas dos seres celestes. Diante Dele, abriu-se um caminho luminoso, descendo cada vez mais baixo até a Terra. Lá, então, os seres celestes viram um pobre estábulo, onde uma mulher e um homem estavam sentados junto a uma manjedoura, em companhia do burro e do boi. O homem estava com muito sono. A mulher, porém, voltou seu olhar para o céu e, quando ela percebeu o caminho luminoso, elevou os braços. Nisso, o Ser de Luz, o Filho de Deus, que havia saído do trono de Deus, começou a descer pelo caminho luminoso, descendo cada vez mais, saudado e acompanhado pelos coros de anjos, cujo canto se intensificava, à medida que Ele passava. Enquanto Ele passava de um círculo celeste ao outro, ele continuamente se transformava; ficou primeiro como um dos anjos mais elevados, como um serafim, como um querubim, e trocava uma forma de glória por outra, como se fossem vestes. Então, Ele chegou ao círculo dos arcanjos, depois ao círculo dos anjos, do qual logo depois saiu. O estábulo pobre resplandeceu em claridade, quando o Luminoso se aproximou de Maria e inclinou sobre ela sua sombra luminosa. Sua luz, porém, se espelhava nos olhinhos da Criança pequenina que a Mãe Divina segurava no colo. Aí, novamente o coro dos anjos ressoou no céu, e a Terra refletia o canto de louvor dos seres celestes: “Hoje nasceu para nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor.”

Desde essa noite, nunca mais se cerrou o círculo dos serafins e querubins. O caminho luminoso continua sempre descendo do trono de Deus até a Terra, e Cristo anda por ele todos os anos, do Pai até os Homens, para nascer entre eles e se tornar semelhante a eles; e para plantar Sua luz em seus corações, a fim de que essa luz se irradie de seus olhos, assim como um dia se irradiou dos olhos do Menino Jesus.

 

Créditos

Realização da Escola Waldorf Rudolf Steiner
Título Original: Das Licht in der Laterne – Adventskalender in Geschichten
Autor: Georg Dreissig
Título em Português: A LUZ NA LANTERNA – Um Calendário do Advento em Histórias
Tradutoras: Ione Rosa Matera Veras, Mariliza Platzer e Edith Asbeck
Digitação de Vanessa V. B. Mendes e Walkiria P. Cavalcanti – Março de 2013.
Revisão de Ruth Salles – Setembro de 2017.

 

F I M

 

 

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