Educação artística

 

Impressão ou PDF

 

Artigo de Christopher Clouder

Muito mais do que ser criativo, dar uma boa aula é uma obra de arte. A capacidade de se entusiasmar e o amor à aprendizagem acompanharão o aluno pela vida afora. Como se pode atingir este objetivo?

É necessária uma preparação cuidadosa de cada aula, mas também é importante ter-se a coragem de alterar a programação prevista para adaptar às necessidades de um grupo de alunos na mesma sala de aula. O professor deve dominar a disciplina que ensina e ser capaz de transmitir os conhecimentos necessários de uma maneira viva, própria para inspirar os alunos, e não sob uma forma fechada, previamente elaborada.

O valor de uma educação centrada na arte foi objeto de profunda reflexão por parte de Platão, mas no entanto, à exceção de Friedrich Schiller e Martin Buber, não foi devidamente tomado em consideração. Platão sublinhou que a harmonia e a predisposição da alma são determinadas por sentimentos estéticos, “…porque aquele que foi educado desta forma percebe de forma sensível, desde muito cedo, os desvirtuamentos da arte ou da natureza, onde o sentido do belo foi descurado e, por isso, sentirá uma justificada cólera. Admira o belo, acolhe-o na sua alma com alegria, tornar-se-á ele próprio bom e nobre.”(1)

Mesmo que estas afirmações possam soar muito deterministas, qualquer pessoa concordará em reconhecer que um ambiente estético exerce uma profunda influência e deve constituir um aspecto importante da sala de aula. As pinturas nas paredes, a cor do edifício, a disposição das mesas, os desenhos e o que se escreve no quadro, a forma como o professor se apresenta aos alunos, como se movimenta, fala e equilibra o humor e o tom sério, todos estes elementos despertam considerações de ordem estética. As crianças olham, observam e aprendem! Não só tem efeito sobre eles o conteúdo da aprendizagem, mas também toda a experiência da aula. Uma aula não é debitar conhecimentos, ela é feita com a participação de professor e de alunos. Trata-se evidentemente de um ideal elevado, mas de um ideal possível. Quem teve a oportunidade de vivenciar estes momentos – mesmo que por pouco tempo – poderá testemunhar a eficácia de atitudes estéticas.

Para poder atingir este objetivo é necessário ter-se consciência de que a própria criança é um artista que trabalha constantemente no desenvolvimento do seu próprio corpo e das suas capacidades. No período compreendido entre os 7 e os 14 anos, a criança converte em imagem interior todas suas interações com o ambiente e, por isso, o professor deve ser capaz de responder, não só em termos intelectuais, mas também artísticos. O intelecto afirma-se durante o período da puberdade, quando o aluno passa das polaridades aos contrastes, da análise à síntese, como um processo evolutivo que o conduz à capacidade individual de julgar. O professor deve apoiar e desenvolver este processo. O desenvolvimento do intelecto é acompanhado de um profundo desejo de criatividade e idealismo.

“Tudo aquilo que hoje em dia é entendido como educação, inclusive nas melhores escolas e colégios, não passa de um anacronismo sem precedentes… as nossas escolas (apesar dos seus discursos sobre a preparação para o futuro) baseiam-se em um sistema ilusório, em vez de olhar em frente levando em conta a nova sociedade em embrião”.(2) Vemos desmoronar à nossa volta a segurança conferida pelos velhos paradigmas, e constatamos como é irrelevante procurar exclusivamente soluções pragmáticas para os nossos problemas. Torna-se imprescindível um pensamento completamente novo como base de uma nova moralidade. Esta nova moralidade deve fundamentar-se no princípio de que, para a criança, o mundo é, na sua essência, bom, belo e verdadeiro. Ou seja, é, em si mesmo, uma criação artística.

Para que se possa ir ao encontro do que a criança procura, é necessária uma nova pedagogia que esteja com a disposição de manter o equilíbrio entre a crescente mecanização do mundo e nós próprios como homens, de modo a que a criança não perca o respeito pelo que significa ser Homem.

Notas:

  • 1. Platão, Politeia, III, 401e
  • 2. Alvin Toffler, Future Shock, 1970

Publicado originalmente no catálogo da exposição “Pedagogia Waldorf”, realizada por ocasião da 44ª conferência sobre educação da UNESCO.

Compartilhe esse post
Facebook
Twitter
Telegram
WhatsApp

ASSINE nosso Portal com apenas R$ 8,00 por mês

e ajude a semear a Pedagogia Waldorf no Brasil. Assine AQUI.

Destaques
Posts relacionados
Literatura disponível

O conteúdo deste site pode ser usado para fins não comerciais, dando os devidos créditos aos autores e ao site, e pode ser compartilhado sem alterações, de acordo com a licença
Creative Commons 4.0