Os Quatro Filhos de Brama

 

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peça de Ruth Salles

Esta pequena peça baseou-se na narrativa “A Formação das Castas”, encontrada no livro Mitologia da Índia¹. O tema musical é o de uma antiga oração brâmane colhida no sul da Índia, e é o mesmo usado no início da peça “Krishna”. A letra é uma versão adaptada de uma invocação ao deus Shiva, de João Baptista de Mello e Souza.

PERSONAGENS:
Coros 1 e 2
Brama
O Brâmane e sua esposa
As feras
O Xátria e sua esposa Xatriani
O Vaxiá e sua esposa Vaxiani
O Sudra e sua esposa Sudrani.

 

Os coros podem ficar ao fundo, um de cada lado. Brama fica mais à frente, no meio, sentado de pernas cruzadas. As outras personagens vão surgindo de trás dos coros. A peça começa com os coros cantando a “Invocação a Shiva”. Depois, cada vez que Brama se movimenta, podem-se ouvir na flauta algumas notas do tema.

CORO (canta):
“Que o Senhor do Universo vos proteja e seja sempre misericordioso,
sob sete formas:
como o sol e a lua regulando o tempo;
como o fogo levando ao céu o incenso;
como o espaço infinito onde vibram os cantos de amor;
como o ar e a água mantendo a vida;
como a terra, que é mãe, oh… mãe, ôh… ôh,
e nutriz de todo germe.
Que o Senhor vos proteja!”

(O Brâmane sai de trás de Brama, enquanto este faz um gesto com a mão na boca e depois em direção ao Brâmane, como se o estivesse tirando da própria boca.)

CORO 1:
– Então Brama, o Criador,
para povoar a terra,
fez sair da própria boca
o Brâmane:
para que cuidasse
dos livros sagrados
e aconselhasse os reis.

(O Brâmane lê. As feras saem de trás do coro e o atacam.)

BRÂMANE (reclamando, depois de enxotar as feras):
– Ó Brama!
Como vou cuidar
dos livros sagrados?
Como contemplar
a santa verdade?
Como ensinar,
como aconselhar,
se as feras me atacam?

(Música. Brama estende o braço direito, e o guerreiro sai como que de trás dele.)

CORO 2:
– Então Brama, o Criador,
fez surgir do próprio braço
o Xátria:
para que fosse o guerreiro
e também o soberano
na terra.
E tirou do braço esquerdo (Brama estende o braço esquerdo, e sai Xatriani)
Xatriani, para ser
esposa desse guerreiro
Xátria.

(As feras saem de novo de trás do coro e atacam o Xátria. O guerreiro espanta-as, ajudado pela mulher, mas depois os dois passam a mão no estômago, com fome.)

XÁTRIA:
– Ó Brama!
Como vou lutar
e espantar as feras,
e reger o povo,
se a fome que tenho
me deixa sem forças?

(Música. Brama se ajoelha, e Vaxiá sai como que de trás de sua coxa direita.)

CORO 1:
– Então Brama, o Criador,
fez surgir da própria coxa
o Vaxiá:
para ser agricultor,
e pastor e mercador
na terra.
E tirou da coxa esquerda
(Sai Vaxiani de trás da coxa esquerda.)
Vaxiani, para ser
esposa do agricultor
Vaxiá.

(Vaxiá e Vaxiani começam a cavar a terra com as mãos, correm de cá para lá e param, enxugando o suor do rosto.)

VAXIÁ:
– Ó Brama!
Como trabalhar
sem ter ferramenta?
Revolver a terra
é dura tarefa!
E as ervas daninhas?
Temos que mudá-las
para outro lugar.
Que vamos fazer?

(Música. Brama fica de pé e sacode o pé direito, e o servo e artesão Sudra como que sai dele.)

CORO 2:
– Então Brama, o Criador,
fez surgir do pé direito
o Sudra:
para ser o artesão,
para ser o operário,
o ajudante necessário
na terra.
E tirou do pé esquerdo (Brama sacode o pé esquerdo e sai Sudrani.)
Sudrani, para que fosse
a esposa desse artesão
Sudra.

(Sudra e Sudrani pegam ferramentas e ajudam Vaxiá e Vaxiani.)

BRÂMANE (vendo cada um com sua esposa):
– Ó Brama!
Cada irmão que tenho
recebeu esposa
que lhe dá ajuda.
Por que estou sozinho?

BRAMA:
– Para meditar, meu filho,
basta que tenhas o auxílio
do livro divino.

BRÂMANE:
– Mas, ó Brama!
Eu tenho certeza
de que, com esposa,
a minha tarefa
será mais bem feita.

CORO 2 (enquanto Brama faz surgir a mulher do Brâmane):
– Então Brama, o Criador,
para que seu filho Brâmane
preferisse a solidão
para orar e meditar
nas escrituras sagradas,
deu-lhe esposa tagarela,
que atormenta o tempo todo.
Que mau gênio tinha ela!

(A esposa do Brâmane o atormenta, e este foge de um lado para o outro. Depois, todos se reúnem ao fundo para a fala final)

TODOS:
– O Brâmane sacerdote,
o guerreiro e soberano,
o camponês mercador,
o operário artesão –
os quatro filhos que Brama
de si mesmo fez nascer –
cada um tem seu dever!

 

 

*1: MELLO E SOUZA, João Baptista de. Sacuntala de Calidasa: e outras histórias de heroísmo e amor. Rio de Janeiro: Ediouro, data n/d.

 

 

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