De Olinda a Olanda

 

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peça de Ruth Salles

peça baseada em fontes históricas, documentos, e no romance “O Príncipe de Nassau”, de Paulo Setúbal

DE OLINDA A OLANDA

Esta peça foi feita especialmente a pedido do professor Tarcísio Viola, que queria, para seus alunos de 14 anos, uma peça sobre tema brasileiro. Escolhemos então alguns momentos de um episódio da História do Brasil em que o Nordeste se libertou do domínio holandês, episódio chamado em geral “Restauração de Pernambuco”.


Nessa escolha do tema, não houve um espírito de partidarismo a favor de Portugal ou contra Holanda, dois países pequenos que realizaram grandes missões ultra-marinas diversas, logo após se destacarem de blocos maiores – Portugal, do todo que era então a península ibérica apenas espanhola; Holanda, do Sacro Império Romano-Germânico – fato aliás assinalado por Rudolf Steiner no livro “Almas Nacionais e sua Missão”. Não há como negar que a pátria-mãe ou madrinha do Brasil seria mesmo Portugal, com os erros e acertos de todo povo colonizador. E o Brasil, ligado a esse país por uma espécie de cordão umbelical de dependência, respeito e afeto, por mais de uma vez, no século XVII, manteve-se fiel ao rei de Portugal nesses tempos de início do sentimento da terra.
Quanto ao linguajar, baseei-me no livro “O Príncipe de Nassau”, de Paulo Setúbal, adaptando mesmo certos trechos desse romance para compor algumas cenas. No mais, procurei valer-me de fontes históricas, de que constam os termos da capitulação dos holandeses e frases dos jornais holandeses da época.
Tentei aqui ressaltar o valor do incipiente espírito brasileiro, representado por tantos homens de Pernambuco e de todo o Nordeste, como, por exemplo, a figura especial do paraibano André Vidal de Negreiros.
A idéia de um Prólogo surgiu por vários motivos, inclusive como um meio de assinalar o valor das mulheres do Tejucupapo e de apresentar, de certa forma, algumas personagens do episódio. Este prólogo consta de duas cenas. Na segunda delas, faço aparecer a figura de frei Manuel do Salvador (apelidado frei Calado), dizendo alguns versos de seu poema “O Valeroso Lucideno”, feito em homenagem ao português João Fernandes Vieira, que lutou pela Restauração de Pernambuco.
A peça é em prosa, com exceção dessa segunda cena do Prólogo e dos trechos em que aparece o Príncipe Maurício de Nassau.
Quanto ao título – DE OLINDA A OLANDA – trata-se do início de conhecida frase de frei Antônio Rosado, que pregava, do púlpito, queixando-se da falta de ajuda das autoridades diante da ocupação holandesa. A palavra “Holanda” aparecia então sem a letra agá. Pesquisando, soube que ela tem origem no vocábulo dinamarquês “Ollant”, que quer dizer “país pantanoso” ou “país dos bosques”.
Há cinqüenta personagens na peça, mas alguns alunos podem representar mais de um papel, como vem entre parêntesis na relação de personagens.
Quanto à música, selecionei, juntamente com a professora de música Mechthild Vargas (Meca), algumas músicas setecentistas holandesas, a serem apenas tocadas, dando tempo para a mudança de cenário entre cenas, ficando isso à escolha do professor de música que se ocupar da peça. Numa dessas músicas, tomei a liberdade de encaixar a letra de uma canção holandesa bem menos antiga; foi esta, porém, entre as que tive em mãos, a única que serviu ao meu propósito de exaltar o espírito holandês, e é para ser cantada pelos chamados flamengos, que aqui vieram enfrentar clima tão diverso, natureza hostil e um povo, para eles, de espírito ainda primitivo e desconcertante. Uma brasileira canta junto com eles, pois se passara para seu lado, tendo-se casado com um flamengo; ao passo que uma órfã de pais holandeses, nascida no Brasil e criada por uma pernambucana, torna-se noiva de um brasileiro e, em dado trecho da peça, canta uma romântica xácara portuguesa, que é “A Bela Infanta”. Outra xácara que consta da peça é a “Nau Catarineta”, e ambas foram escolhidas por constarem do folclore pernambucano e serem conhecidas já no século dezessete. Para melhor dar um toque da terra, incluí na peça, apenas para ser tocado em troca de cenários, um coco seguido de embolada, embora de época posterior. É o “Benedito Pretinho”. O motivo da inclusão dessa música é que, em sua embolada aparece o clássico exemplo de uma escala de sentido modal que, no Brasil, ocorre apenas no Nordeste. Era comum na música gregoriana e na dos antigos gregos e dos antigos incas. Por escolha do professor de música que se encarregou da peça, os holandeses ainda cantaram uma música de Alceu Valença, “Moinhos de Holanda”, que substituiu a repetição da canção holandesa na cena final.

As cenas se passam em Pernambuco, no século XVII, entre Olinda, Recife (chamado na época de Arrecife), Cidade Maurícia e regiões próximas.

 

PERSONAGENS

Quatro habitantes (três holandeses da taberna, três passantes e dois holandeses
da cena final)
General von Schkoppe
Conselheiro van Dirth
Arcisiewsky (Domingos Fagundes)
Carlos Tourlon
Gaspar Dias
Príncipe Maurício de Nassau
Jan Blaer
Sigmund Starke (um dos emissários)
Dois soldados da Guarda (dois dos emissários)
O oficial holandês (um dos emissários)
A sentinela (um dos emissários)

Frei Manuel do Salvador, vulgo frei Calado
Frei João, vulgo frei Poeira (Antônio Filipe Camarão)
Frei Rafael de Jesus (Henrique Dias)
Frei Inácio

 

Bastião
Rodrigo Mendanha
André Vidal de Negreiros
João Fernandes Vieira
Capitão Dias Cardoso (um dos habitantes)
Antônio Cavalcanti (um dos habitantes)
General Francisco Barreto
Matias de Albuquerque (Amaro Lopes)

Nove mulheres do Tejucupapo
Três habitantes (duas holandesas da parte final)
Ana Paes
Joana de Albuquerque
Carlota Haringue
Luiza de Oliveira, mulher de Amaro Lopes
Dama holandesa (uma habitante?)

 

A peça consta de um Prólogo, três Atos e uma Cena Final.

 

PRÓLOGO

CENA 1

À frente ou abaixo do palco: quatro homens e três mulheres, habitantes do lugar. No centro, na Campina do Taborda: general von Schkoppe, conselheiro van Dirth, cinco emissários (Sigmund Starke, a sentinela, o oficial, os dois soldados da Guarda); general Francisco Barreto, Rodrigo Mendanha, André Vidal de Negreiros e, querendo, outros chefes brasileiros da última cena antes da cena final.

(À frente ou abaixo do palco acorrem pessoas vindas dos dois lados, umas ao encontro das outras, na excitação de quem transmite ou ouve novidades recentes, talvez boatos.)

1º HABITANTE (excitado): – Os fortes! Parece que foram tomados pelos nossos!
2º HABITANTE (com espanto e alegria): – Os fortes?!
3º HABITANTE (com certeza): – Foram tomados por terra pelos nossos e por mar pela frota portuguesa!
4º HABITANTE: – Então os holandeses se rendem!
5º HABITANTE (moça): – É a restauração de Pernambuco, depois de tantos anos!
6º HABITANTE (moça): – Até que enfim! Deus seja louvado para sempre!
7º HABITANTE (moça, apontando para o centro da cena): – Olhem! A capitulação! Lá! Na Campina do Taborda!

(Os habitantes se aquietam num canto, enquanto vêem e ouvem. No centro entraram, por um lado, o general von Schkoppe, o conselheiro van Dirth e os cinco emissários. Pelo outro lado, o general Francisco Barreto, Rodrigo Mendanha André Vidal de Negreiros e talvez outros chefes brasileiros. Cada um dos emissários recebe uma carta do general von Schkoppe ou de van Dirth. O general lê uma em voz alta, antes de fazer a entrega.)

VON SCHKOPPE (solene): – Dos chefes holandeses no Recife, aos chefes holandeses no Ceará, na Paraíba e nas ilhas de Itamaracá e Fernando de Noronha: “Nobre, honrado, bravo! Pela convenção que assinamos e que vai adjunta, podereis saber o quanto nos custa informar-vos que deveis entregar ao Mestre de Campo General todas as fortalezas aí existentes. Terminamos rogando a Deus que vos proteja (1). O general Sigmund von Schkoppe e os membros do Conselho.”

(Os cinco emissários, após receberem as circulares, retiram-se apressados. O general von Schkoppe se volta solenemente para o Mestre de Campo General Francisco Barreto. Os dois se cumprimentam com um aceno de cabeça.)

VON SCHKOPPE: – General Francisco Barreto!

FRANCISCO BARRETO: – General Sigmund von Schkoppe!

RODRIGO MENDANHA (após receber das mãos de Francisco Barreto um documento, lendo-o em voz alta):
“Hoje, 26 de janeiro de 1654, o senhor Mestre de Campo General Francisco Barreto dá por esquecida toda a guerra que se tem cometido por parte dos vassalos dos senhores Estados Gerais das Províncias Unidas e da Companhia Ocidental, concedendo aos sobreditos vassalos tudo o que for de bens móveis que atualmente estiverem possuindo, e concedendo-lhes a demora de três meses para ultimarem seus negócios” (2).

(von Schkoppe recebe o documento, e ele e Francisco Barreto dão um aperto de mãos e saem amigavelmente, um ao lado do outro, seguidos pelos demais. As exclamações dos habitantes se fazem ouvir. As moças se abraçam, os homens atiram para o ar seus chapéus ou gorros.)

1º HABITANTE: – Os holandeses capitularam!
2º HABITANTE: – Viva a restauração de Pernambuco!
3º, 4º e 5º HABITANTES: – Viva! Viva! Viva!
6º e 7º HABITANTES: – Deus seja louvado! Deus seja louvado!

(Ao começarem as exclamações dos habitantes, começa também a se ouvir a introdução à xácara “Nau Catarineta”. Os habitantes invadem o centro da cena, dançando felizes e cantando as primeiras estrofes da xácara.)

HABITANTES (cantam):
“Ouvi agora, senhores, coisas de muito pasmar (bis):
É a Nau Catarineta, ó tolina, dela vos venho contar (bis).
Há sete anos e um dia, iam na volta do mar (bis),
botando solas de molho, ó tolina, para de noite jantar (bis).”

(Os habitantes vão-se dispersando e saem. O palco escurece.)

 

 

CENA 2
Mesmo cenário. Frei Manuel do Salvador, as nove mulheres do Tejucupapo; frei João, frei Rafael de Jesus; Matias de Albuquerque.

(O palco está escuro. Na frente, num canto iluminado, aparece frei Manuel do Salvador, que começa a dizer seus versos. À medida que fala, o palco se ilumina, enquanto entram aos poucos, de três em três, revezando-se, as nove mulheres do Tejucupapo. Três representam as três raças; outras três, as mulheres lutadoras, armadas de chuços, foices, varapaus, enxadas; as três últimas, com suas rendas, agem como se fossem as três nornas, antigas tecelãs do destino. Movimentam-se sempre e vêm vestidas muito pobremente.)

FREI MANUEL (olha solene para o público; as 3 primeiras mulheres entram):
– Cessem sereias das cerúleas ondas,
as ninfas do dourado Tejo ameno,
a fama do tebano Epaminondas –
enquanto, do animoso Lucideno,
galhardia, valor e empresas canto,
reparo do Brasil, do inferno espanto. (3)

(As três primeiras mulheres observam-no e comentam umas com as outras.)

1ª JACY: – Isabel, Bastiana… Ouçam! Quem fala com tanto fervor?
1ª ISABEL: – É frei Manuel do Salvador, Jacy.
1ª JACY: – E quem é esse Lucideno, a quem faz seu louvor?
1ª ISABEL: – É o filho da Ilha da Madeira…
1ª BASTIANA: – O português João Fernandes Vieira.

FREI MANUEL (continua, sem reparar nas mulheres):
– A Pernambuco chega humilde e pobre…
mas lutou, ficou rico, além de nobre…

1ª JACY: – Uns dizem que era filho de fidalgos.
1ª ISABEL: – Outros afirmam que era mulato e filho de deportados.
1ª BASTIANA: – Ora, o que importa foi o muito valor desse João Fernandes Vieira.

FREI MANUEL (continua, ainda sem reparar nas mulheres):
– Vendo em Olinda o povo atribulado
pelo belga, tirano capital,
tratou de o livrar de morte horrenda
com sua vida e ser, sangue e fazenda. (as três mulheres o cercam)

1ª JACY:
– Vosmecê é frei Manuel do Salvador
que a si mesmo frei Calado se nomeou?

FREI MANUEL (aborrecido por ser interrompido):
– Façamos pausa aqui, musa querida…

1ª ISABEL:
– Fale, frei Calado! Olhe para nós
e diga: Quantos foram os heróis?

1ª BASTIANA:
– Quem mais, além do jovem português,
vendo em Olinda o povo atribulado
pelo holandês, tirano capital,
tratou de o livrar de morte horrenda
com sua vida e ser, sangue e fazenda?

FREI MANUEL (reparando nelas):
– Quem são vossas mercês vestidas só de trapo?

AS TRÊS (e mais outras três que acabam de entrar):
– Nós somos as mulheres do Tejucupapo!

(As três primeiras vão saindo. As outras três trazem as ferramentas.)

2ª JACY:
– Apenas um pequeno povoado
de casinhas humildes, frei Calado.
Os nossos homens tinham ido longe
vender nossas mandiocas e batatas.
Soubemos que o holandês desembarcara
em Olinda, porém jamais pensamos
que ele viesse até Tejucupapo.

2ª ISABEL:
– Mas ele veio, e eram muitos deles;
e, vendo só crianças e mulheres,
os soldados fizeram ameaças
e pilharam, queimaram nossas casas!

2ª BASTIANA:
– Fugimos para o mato. Foi verdade…
Porém voltamos logo, indignadas,
prontas para morrer por nosso chão!

AS TRÊS (erguendo as ferramentas):
– E armadas só mesmo como estávamos,
com chuços, foices, varapaus, enxadas
– crianças ajudando com pedradas – (como que avançam)
aos gritos, como aludes desabamos
sobre esses altos louros tão estranhos!

2ª ISABEL:
– E nisto seu espanto foi tamanho,
que nem desembainharam as espadas.

AS TRÊS (com voz forte):
– Estas mulheres do Tejucupapo
fizeram-nos bater em retirada!

FREI MANUEL:
– Sua coragem foi imensa…
Que Deus lhes dê a recompensa! (entram frei João e frei Rafael de Jesus)

2ª BASTIANA:
– E agora, frei Calado, olhe para nós
e diga: quantos foram os heróis?

FREI MANUEL:
– Ah, na restauração de Pernambuco,
houve muitos e mais homens ilustres.

FREI JOÃO (com entusiasmo):
– E gente humilde também houve muita!

2ª JACY:
– Mas quem é vosmecê que a nós se ajunta?

FREI JOÃO:
– Sou frei João. Cuidava dos feridos
e prestava assistência espiritual
aos guerreiros. No meio do combate,
eu sempre os animava com este lema:
“Meus filhos, tenham Deus no coração,
e tudo o mais irá numa poeira!”

2ª BASTIANA:
– Ah… Então vosmecê é o tão querido
frei Poeira?

FREI JOÃO: – Ganhei esse apelido
de tanto repetir o mesmo lema.

2ª JACY (a frei Rafael de Jesus):
– E quem é vosmecê, de rosto sério,
que a nós vem-se achegando?

FREI RAFAEL: – Eu sou o frei
Rafael de Jesus. Também louvei
os que lutaram para libertar
a terra que os flamengos nos tomaram…
João Fernandes Vieira, o português,
foi um grande! Porém terrível susto
foi o índio Filipe Camarão!

(O segundo grupo de mulheres é substituído pelo terceiro, tão sutilmente, que os homens nem percebem; são mulheres com rendas na mão, onde tecem e olham.)

FREI JOÃO:
– Esse Antônio Filipe Camarão
era capitão-mor e comandante
dos índios todos. Que sangrentas lutas!
E Clara Camarão, sua mulher,
acompanhava-o corajosamente!

FREI RAFAEL:
– Terrível foi o negro Henrique Dias,
governador dos pretos e crioulos
e mulatos do Estado do Brasil.
Perdeu a mão numa batalha e disse: (o frade ergue uma das mãos)
“A mim me basta apenas esta outra
para servir a Deus e ao meu Rei!”

3ª ISABEL:
– O bravo português Fernandes Vieira…
3ª JACY:
– O cacique dos índios, Camarão…
3ª BASTIANA:
– O corajoso negro Henrique Dias…
AS TRÊS:
– Quem os uniu assim tão diferentes,
o escravo e o senhor, o branco e o bugre?

3ª ISABEL:
– Quem, modesto e apagado foi aquele,
que os conclamou, uniu, apaziguou,
formando a grande força vencedora?

FREI MANUEL (distraído, sem reparar que as mulheres são outras):
– Teria sido aquele André Vidal
de Negreiros?

FREI RAFAEL: – Seria o paraibano
André Vidal, nascido num engenho,
que foi sargento-mor, mestre-de-campo?

AS TRÊS (com ênfase):
– A alma da luta, o coração da trama!

FREI JOÃO:
– Ia de vila em vila, encorajando,
de engenho a engenho agremiando a todos.

3ª JACY:
– André Vidal esteve, pois, no início.

FREI JOÃO:
– Era amigo de todos. Era a mola
dos planos combinados em segredo.

3ª ISABEL:
– André Vidal lutou, então, no meio.

FREI JOÃO:
– Qual traço de união, criou em todos
os corações um sentimento novo:
o sentimento de uma terra una!

3ª BASTIANA:
– André Vidal nos trouxe o fim de tudo.

FREI RAFAEL:
– O fim de tudo? Mas que fim foi esse
a não ser a expulsão dos holandeses?

3ª BASTIANA:
– O fim de tudo? Nesse grande esforço
de fazer ir-se embora o estrangeiro, (com ênfase)
firma seus pés na terra o brasileiro!

FREI MANUEL (confuso de ver que as mulheres são outras e trazem trabalhos de
renda em vez de ferramentas):
– Vossas mercês chegaram com elas?

3ª JACY:
– Sim, mas tecemos rendas, agora.

FREI MANUEL:
– Com rudes mãos, rendas tão belas…

3ª ISABEL:
– Elas consolam nosso pranto.

3ª BASTIANA:
– Não sei que mulheres houve outrora
que nos fizeram tecer tanto.

3ª JACY:
– Eu sou Jacy.

3ª ISABEL: – Eu, Isabel.

3ª BASTIANA:
– Eu, Bastiana. E me parece
que cada uma, quando tece,
vê o destino em sua trama.

3ª JACY (olha na renda, como as outras duas):
– E agora vamos ver, na renda,
que outros heróis em vida e lenda.

(Matias de Albuquerque entra cabisbaixo e como que cansado. Traz uma carta na mão. Frei Rafael vai buscá-lo e recebe dele a carta.)

3ª ISABEL:
– Quem é esse vulto triste que aparece?

3ª BASTIANA (olhando na renda):
– Quanto mais passa o tempo, mais esse vulto cresce.

FREI MANUEL:
– Matias de Albuquerque!
Foi, no início da luta, o herói notável!

3ª JACY (lendo na renda):
– O injustiçado, o esquecido.
Do tempo em que Portugal, sem rei,
submeteu-se à Espanha e à sua lei.

FREI RAFAEL (lendo a carta):
– “Majestade! Enquanto a vida me durar cuidarei de tudo; embora com quase a metade dos soldados doente, e todos descalços e em farrapos, e eu sem poder pagar-lhes socorro nem dar-lhes de comer”. (4)

MATIAS DE ALBUQUERQUE (com tristeza):
– Em Porto Calvo fomos derrotados.
Um dos nossos passou para o outro lado
e revelou cada um dos nossos passos…
Eu então fui chamado a Portugal,
fui processado e preso.

3ª BASTIANA (indignada): – Mas, por que?

MATIAS DE ALBUQUERQUE:
– Responsabilizaram-me por tudo.
Só quando Portugal se libertou
da Espanha é que eu também fui libertado…

(Os três frades saem, conduzindo Matias de Albuquerque para fora.)

3ª JACY:
– Bravo Matias de Albuquerque, logo
virão os desagravos e a vitória.

3ª ISABEL (movimento com a renda):
– Mais este novo fio bem tecido,
e tudo o mais terá acontecido.

3ª BASTIANA (virando a renda):
– De um lado mostra a lenda, do outro, a história.

3ª JACY:
– Afastemo-nos agora.
É a hora. Aproxima-se o Passado.

3ª ISABEL:
– Ele se fará Presente.

3ª BASTIANA:
E apontará o Futuro em sua semente.

(As três saem. Ouvem-se as notas do coco “Benedito Pretinho”, que vão ligar o Prólogo ao Primeiro Ato.)

 

(continua)

 

Havendo interesse em representar a peça, enviaremos o texto completo em PDF. A escola deve solicitar pelo email: [email protected]
Favor informar no pedido o nome da instituição, endereço completo, dados para contato e nome do responsável pelo trabalho.

 

 

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