Éolo e a Viagem de Ulisses

 

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peça de Ruth Salles

Esta peça é um magnífico trabalho da professora Edith Asbeck, que ampliei e reescrevi em hexâmetros, ritmo tão usado na antiga Grécia. Nela, passa-se um episódio da viagem de Ulisses de volta a Ítaca depois da tomada de Troia, quando a curiosidade de seus homens os leva a abrir um odre com o presente que Éolo, o rei dos ventos, fez a Ulisses. O presente não consta de ouro ou prata, mas sim de ventos, e eles escapam assim que o odre se abre. Com isso, a barca de Ulisses torna a perder o rumo que o levaria à sua terra. Na entrada da peça, é tocada na flauta uma melodia grega do Escólio de Seikilos. A mesma melodia pode ser tocada também no fim, dependendo da escolha do professor.

PERSONAGENS:
Gregos
Troianos (podem depois fazer o papel dos ventos)
Ondas do mar
Ventos
Eólios, moradores da ilha de Eólia
Éolo, pai dos ventos

 

DISPOSIÇÃO (SUGESTÕES):
TROIA—————–BARCA DE ULISSES—————-EÓLIA
Gregos————————-Ondas————————Eólios
Troianos———————————————————Éolo
Ulisses

Deve haver planos mais altos para os gregos em Troia, os gregos na barca (lugar inicialmente ocupado pelas ondas, como coro) e os eólios. Quanto a Ulisses e Éolo, fica a cargo do professor. As cores das túnicas devem ter um significado. Ver com a professora de euritmia.

 

1ª ETAPA
Em Troia

Nesta 1ª etapa, a ação se passa entre gregos, troianos e Ulisses, enquanto as ondas e os eólios fazem o papel de coro. Éolo deve sempre tomar parte no coro dos eólios. Os troianos estão prostrados sobre os degraus dos gregos, no papel de vencidos. Quando falam, devem estar já semi-erguidos.

 

GREGOS:
– Glória a Ulisses! Seus hábeis recursos nos deram vitória.

ULISSES:
– Sim, é a vitória. Cercada de chamas, desmancha-se Troia.

GREGOS:
– Troia vencida!

ONDAS E EÓLIOS:
– Tão rica cidade…Tão mísera sorte…

GREGOS:
– Jaz entre escombros, cercada de chamas, ferida de morte.

ULISSES:
– Dura é a guerra.Vitória inglória, de amargo sabor…

TROIANOS (semi-erguidos):
– Chorem por Ílio, morada dos deuses, cidade de Príamo!
Célebres muros, que foram escudo tão forte, tão duro,
jazem por terra, quebrados, queimados, em tristes ruínas.

EÓLIOS:
– Deuses clementes, permitam ao menos alguns se salvarem!

ONDAS:
– Eia, troianos, aos mares se lancem buscando outras plagas!

TROIANOS:
– Troia vencida Ulisses contempla…

TODOS (menos Ulisses):
– E pensa em partir!

EÓLIOS:
– Dói-lhe no peito o ardor da vitória…

TODOS (menos Ulisses):
– E pensa em partir!

GREGOS:
– Fama e poder!

TROIANOS:
– Solidão e silêncio…

TODOS (menos Ulisses):
– E pensa em partir!

ONDAS (enquanto Ulisses chama os gregos com um gesto):
– Seus companheiros Ulisses conclama.

TODOS (menos Ulisses):
– Só pensa em partir!

 

2ª ETAPA
Na Barca

Nesta 2ª etapa, os gregos e Ulisses sobem para a barca, isto é, para o plano mais alto onde estavam as ondas. Estas descem e passam a fazer o movimento do mar. Os troianos ficam de pé, para fazer o papel de coro juntamente com os eólios.

 

GREGOS E ULISSES:
– Ítaca! Ítaca! Ilha distante, ó pátria sonhada!

ULISSES:
– Nela me espera a sábia e constante esposa adorada.

GREGOS:
– Ah, se viessem os ventos que varrem as vagas velozes
e, sussurrando, nos dessem notícia da pátria tão longe…

ULISSES:
– Ah, se voassem os ventos de volta, levando nas vozes
nossos suspiros, saudades sofridas dos entes queridos…

TROIANOS E EÓLIOS:
– Ondas dos mares e sopros dos ventos, carreguem a barca!
Singrem as vagas, valentes guerreiros, retornem à pátria!

ULISSES (com a mão em pala na testa, olhando ao longe):
– Entre a Itália e a Sicília, avisto uma ilha pequena!

ONDAS:
– Ilha Eólia é seu nome. Flutua cercada de muros.
Dentro dos muros se ergue o palácio de Éolo, seu rei,
dono dos ventos que voam no mundo por ordem de Zeus.

EÓLIOS:
– Zéfiro, Bóreas, e Euro, e Noto, e todos os mais…

TROIANOS E EÓLIOS:
– Doze são eles, os ventos inquietos guardados por Éolo.

 

3ª ETAPA
Em Eólia

Nesta 3ª etapa, Ulisses e os gregos descem da barca e se dirigem a Éolo.Troianos e ondas fazem o papel de coro.

 

ULISSES (a Éolo):
– Rei soberano, ó dono dos ventos, aqui aportamos.

ÉOLO:
– Sejam bem-vindos! E contem os feitos das guerras heróicas!

(Durante os versos seguintes, ditos pelo coro de troianos e ondas, gregos e eólios misturam-se uns aos outros significando o que é dito.)

TROIANOS E ONDAS:
– Passa-se o mês entre festas e danças, sorrisos e flores.
Bem descansados, reúnem-se os homens em volta de Ulisses.
Éolo deixou-o partir rumo à pátria. Chegando essa hora,
dá-lhe um presente guardado num odre de pele de boi.
Nele estão presos os cursos dos ventos, os mais turbulentos.

ÉOLO (a Ulisses):
– Dou-lhe este odre. É a prova de minha sincera amizade.
Guarde-o bem, pois é este um presente dos deuses aos homens.

ULISSES (a Éolo):
– Gratos estamos, ó Éolo!
(aos gregos):
– E, agora, sigamos viagem!

TROIANOS E ONDAS (enquanto os gregos e Ulisses sobem na barca):
– Sopre nas ondas apenas o Zéfiro leve e suave,
que há de levá-los às praias de Ítaca, pátria de Ulisses.

 

4ª ETAPA
Na barca

Nesta 4ª etapa, ondas e eólios fazem o coro, e os troianos preparam-se para ser os ventos, que vão surgir de trás da barca, se possível. Ulisses segura o odre com uma das mãos e olha ao longe. Os gregos apontam o odre e conversam, curiosos, e cobiçando o que pode haver dentro dele.

 

1º GREGO:
– Qual o tesouro de prata ou de ouro que há neste odre?

2º GREGO:
– Certo seria que se repartisse a fortuna entre todos.

3º GREGO:
– Ouro ou prata, olhar tal tesouro não é grande mal.

4º GREGO:
– Fiquem atentos! Assim agiremos no justo momento.

ONDAS E EÓLIOS:
– Fortes guerreiros, no mar e no vento, governam a barca.
Vão nove dias e noites vagando no rumo da pátria.

(Ulisses, no primeiro verso que diz, estende um dos braços. No segundo, estende os dois, largando o odre. Depois, quando o coro fala, os gregos roubam o odre e tratam de abri-lo.)

ULISSES:
– Lá no horizonte já vejo surgirem contornos de Ítaca!
Filho Telêmaco! Ó doce Penélope, esposa adorada!

ONDAS E EÓLIOS:
– Ante o descuido de Ulisses sonhando com a pronta chegada,
são sorrateiros os gestos que roubam o odre encantado.
vão curiosos abrindo seus laços. Fatal interesse!

(Os gregos gesticulam, tentando manter a barca a salvo da força dos ventos. Movimento dos ventos.)

ONDAS E EÓLIOS:
– Soltam-se os ventos, e viram e voltam, sibilam, ululam,
zunem, sussurram, enfunam as velas que, loucas, se vão…
Tontas se movem, girando, levando a barca do herói
para tão longe que nem no horizonte mais nada se vê.

ULISSES:
– Ítaca! Ítaca! A pátria distante não está mais à vista.

GREGOS:
– Ilha perdida…Talvez para sempre…Talvez por um dia…

ULISSES:
– Quem me responde? Que rumo tomar? Meu reino… Meu chão…

TODOS (menos Ulisses):
– Quem saberia? Apenas os deuses. E nada dirão.

 

 

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