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peça de Ruth Salles

Alunos do 5° ano da Escola Rural Dendê da Serra representando a peça. Município de Uruçuca – BA.

Este peça se baseia no livro “Krishna” de Edouard Schuré¹, contendo algumas frases do mesmo, que estão entre aspas. As últimas frases da peça foram tiradas do cântico hindu Bhagavad Gîtâ², episódio da grande e antiquíssima epopeia “Mahabharârata”. Essas frases são dos versículos 8 e 9 do capítulo VII, e dos versículos 21, 31 e 33 do capítulo X. Na religião da Índia, o herói Krishna é considerado a oitava encarnação de Vishnu, que veio unir os filhos do sol (simbolizando a essência divina do homem) aos filhos da lua (simbolizando sua essência carnal), dominando-os e irmanando-os.

Essa batalha tem um sentido profundo. Segundo estudiosos, o nome do rei lunar, que se torna cego, é Instinto; os guerreiros solares têm nomes como Fé, Amor à Verdade, Obediência à Vontade divina; suas cornetas chamam-se Vitória, Harmonia, Glória etc. Os guerreiros lunares têm nomes como Obstinação, Egoísmo. Essa batalha, na verdade, pode ser encarada como a luta do homem no campo de suas ações. Ele só consegue a vitória depois que se deixa guiar pela voz do ser espiritual, que é Krishna, que domina o rei dos Touros (nossa parte animal) e o Rei das Serpentes (nossa complicada trama mental). Naturalmente, na peça os alunos vivem simples trechos da história de Krishna. O primeiro canto é música original de uma oração dos brâmanes ao deus Shiva, colhida no sul da Índia. A letra é uma Invocação a Shiva encontrada no livrinho “Sakuntala, de Kalidasa”, de João Baptista de Mello e Souza³. A peça consta de uma Introdução e de sete Cenas curtas.

 

PERSONAGENS:
Componentes do Coro
Shiva-Mahadeva – túnica branca; talvez uma faixa dourada na cabeça.
Vasichta – túnica branca, barba branca se possível, um cajado na mão.
Krishna – roupa de pastor; túnica branca para pôr por cima mais tarde; espada na mão.
Filhos do Sol – túnica azul com fitas douradas; espada na mão.
Filhos da Lua – túnica marrom com fitas prateadas; arco na mão.
Rei dos Touros – além da túnica marrom e do arco, uma coroa na cabeça.
Rainha dos Touros – o mesmo, menos o arco.
Rei das Serpentes – além da túnica marrom, uma serpente pintada na roupa ou um enfeite de feiticeiro na cabeça.
Devaki – túnica marrom e uma túnica branca para vestir por cima mais tarde; coroa de flores na cabeça; fuso na mão.
Anacoretas – túnica de saco com capuz; cada um tem outra para cobrir mais tarde os filhos do sol.
Pastores e Pastoras – túnicas curtas de cores vivas. Se os pastores também representarem os filhos do Sol, devem ter essa túnica por baixo da azul.

 

NOTAS :
1. Os instrumentos usados são flauta e tambor. Os outros instrumentos citados no texto são: concha, corneta, trombeta, cítara e címbalo. Ver se podem ser usados ou imitados. O som da concha pode ser feito com as mãos.
2. O coro e os seres divinos permanecem em cena todo o tempo. Shiva-Mahadeva, de preferência, deve estar num plano mais alto, com Krishna a seus pés, coberto com a túnica branca, como figura velada.

 

INTRODUÇÃO
Invocação ao Senhor do Universo
Todos cantam dirigindo-se à plateia, depois assumem suas posições: o Coro no centro, os Filhos do Sol à esquerda, os Filhos da Lua à direita.

TODOS (cantam ao som do tambor):
“Que o Senhor do Universo vos proteja e
seja sempre misericordioso, sob sete formas:
Como o sol e a lua regulando o tempo;
como o fogo vai levando ao céu o incenso;
como o espaço infinito onde vibram os
cantos de amor;
como o ar e a água mantendo a vida;
como a terra que é mãe
– oh, oh, mãe! Ôh, ôh… –
e nutriz de todo germe,
que o Senhor vos proteja!”

 

CENA 1

Vitória dos filhos da Lua sobre os filhos do Sol

 

CORO (com entonação dramática):
– Ó Shiva-Mahadeva, deus imenso,
deus que gera e destrói! Chegou o tempo!
Tempo terrível preparando a sorte
e o destino de tantos bons guerreiros!

FILHOS DO SOL (todos ou um chefe, falando alto e avançando com espada):
– Às armas, Filhos do Sol! Chegou a vez!

CORO (bem forte, ao se ouvir o som prolongado das conchas):
– Ouve-se o som das conchas assopradas.
(um toque de corneta)
O toque das cornetas já se escuta.
Em claro campo aberto vêm os príncipes
e os guerreiros prontos para a luta.

(Os Filhos da Lua avançam com arcos erguidos, ao ritmo de tambores.)

CORO (fala no ritmo dos tambores, pondo força nas palavras em negrito):
– Já vêm lá do fundo
das matas escuras
os Filhos da Lua!
Terríveis arqueiros,
avançam, avançam,
avançam ligeiros!!

(Os Filhos da Lua fazem um gesto circular com o arco, simulando o lançar das flechas. Os Filhos do Sol vão tombando. O Coro faz a exclamação de desalento longamente, começando num tom agudo e terminando no grave.)

CORO:
– Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah!…

(Os Filhos da Lua erguem os arcos no ritmo dos gritos de vitória.)

FILHOS DA LUA:
– Ha! Ha! Ha! (eles saem)

FILHOS DO SOL (um ou todos erguem os braços em direção a Mahadeva):
– Mahadeva, que triste esta vitória…
Aonde os Filhos do Sol irão agora?

(Mahadeva estende os braços protetores e canta o “OM” [AUM] numa nota só, pausadamente. Enquanto canta, os anacoretas vão entrando, cobrindo cada guerreiro com um manto de saco e conduzindo-os para fora.)

MAHADEVA:
– Ooooommm…
– Ó anacoretas lá dos montes frios,
vinde dar aos guerreiros vosso auxílio!
Vinde cobri-los com os vossos mantos!
Que eles fiquem ocultos por enquanto!

(Krishna, que estava coberto com manto e capuz, sentado aos pés de Mahadeva e na sua frente, ergue-se e se volta de frente para ele. Mahadeva impõe as mãos sobre sua cabeça, após abaixar para trás seu capuz. Depois das palavras seguintes, Krishna torna a se sentar, mas de cabeça descoberta, como quem já está pronto.)

MAHADEVA:
– Krishna, cumpriu-se a sorte nesta guerra.
Teu tempo de nascer já é chegado.
Leva tua palavra sobre a terra
e une os homens de um e de outro lado.

 

CENA 2

O Senhor do mundo nascerá de Devaki

 

(Uma flauta toca o tema de Devaki uma vez, em seguida o Coro canta-o suavemente, enquanto Devaki entra e se senta no chão, fiando com o fuso.)

CORO (canta):
“Devaki com o fuso fiava,
enquanto, serena, aos deuses rezava.”

(Devaki ergue os braços para Mahadeva e fala, enquanto vêm entrando o Rei dos Touros com a Rainha, o Rei das Serpentes e os Filhos da Lua.)

DEVAKI:
– Ó Mahadeva! Não é de tua vontade que os homens sejam amigos?
Não é verdade que um dia nascerá aquele que há de uni-los?
Para o bem de todos os homens, ó Mahadeva, quando virá o Senhor de toda a terra?

REI DOS TOUROS:
– Que dizes, Devaki? Que fazes, minha irmã?

DEVAKI:
– Ó Rei! Peço aos deuses que nos mandem
o Renovador e lhes pergunto quando ele virá.

REI DOS TOUROS (batendo no peito):
– De quem virá, digo eu, o Rei dos Touros!
Decerto será meu filho esse homem poderoso.
(dirigindo-se ao Rei das Serpentes): – Ainda mais agora, que somos aliados!
(dirigindo-se a Devaki): – O Rei das Serpentes é um terrível mago!

REI DAS SERPENTES (falando para todos e esfregando as mãos):
– Sim, desde que casei minha filha com esse Rei, somos todos mais fortes!

RAINHA (ao Rei dos Touros):
– Ó Rei, essa espera me deixa impaciente.
Quero logo saber se é de mim que nascerá o Senhor de toda a terra.

REI DAS SERPENTES (aos brados):
– Invoquemos os deuses! Invoquemos os deuses!

FILHOS DA LUA (clamam, erguendo os braços):
– Oh, de quem nascerá o Senhor de toda a terra?

MAHADEVA:
– Daquela que tem o coração simples e puro
nascerá o Senhor de todo o mundo.

CORO (canta numa nota só):
“Glória, glória, glória a Devaki!
O Senhor do mundo nascerá de ti!…”

FILHOS DA LUA, menos Devaki (com desalento):
– Oh, oh, oh, oh, oh, oh, oh…

(O Coro toca na flauta o tema de Devaki, enquanto esta, de pé, inclina-se modestamente voltada para Mahadeva, depois senta-se num canto e continua fiando. O Rei dos Touros e a Rainha, no canto oposto, começam a tramar, enquanto Vasichta vai entrando desapercebido.)

RAINHA:
– É preciso que Devaki morra imediatamente!

REI DOS TOUROS:
– Como?! Matar minha irmã, que é protegida dos deuses?

RAINHA:
– Então eu te abandono e volto para a casa de meu pai. Que Devaki reine em meu lugar.

REI DOS TOUROS:
– Não, não! Espera! Está bem, ela morrerá.

RAINHA (entusiasmada):
– E depois faremos ao deuses um grande sacrifício, e o Senhor do mundo será nosso filho!

VASICHTA (aparecendo e assustando-os):
– Treme, ó Rei!

1º FILHO DA LUA (espantado):
– É Vasichta!

2º FILHO DA LUA:
– É o santo anacoreta! (inclina-se)

3º FILHO DA LUA:
– É Vasichta! Ele desceu da mais alta cordilheira!

VASICHTA (com seu cajado, aponta primeiro o rei, depois a rainha):
– Tu, que persegues os homens da montanha santa, ó Rei dos Touros, treme!
– E tu também, Filha da Serpente, porque o filho de Devaki nascerá!
Ele virá com armadura invulnerável e vencerá!
– Todos vós, tremei e temei! (Vasichta sai.)

REI DOS TOUROS (para a Rainha):
– Hei de vencer o santo da montanha!

(Ouve-se de novo o tema de Devaki, enquanto Mahadeva desce de seu lugar, cobre Devaki com a capa branca e vai conduzindo-a. O Rei e a Rainha saem.)

 

CENA 3

Nascimento de Krishna entre pastores

 

(O Coro toca na flauta o tema de Devaki, depois canta, enquanto Devaki caminha guiada por Mahadeva. Quando chegam junto aos anacoretas, Mahadeva volta a seu lugar elevado.)

CORO (canta):
“Devaki nos bosques vagava,
abelhas zumbiam e aves cantavam.
Devaki, se a fome chegava,
as árvores todas seus frutos lhe davam…”

ANACORETAS (recebendo Devaki):
1º – Benvinda sejas, ó irmã do rei!
2º – Foi Mahadeva quem guiou teus passos.
3º – Aqui vivemos como anacoretas.
4º – Não correrás perigo ao nosso lado.
5º – Foste escolhida pelo deus supremo.
6º – Darás ao mundo um filho consagrado.
7º (que é Vasichta):
– Viverás escondida entre pastores,
e o grande Krishna lá será criado
sem saber do que hoje aqui falamos,
sem saber para quê foi enviado.

DEVAKI (inclina-se):
– Que o grande Mahadeva seja louvado!

(Saem os anacoretas e entram os pastores, que se sentam. Devaki está sentada, fiando, quando começa a ouvir palavras misteriosas, pronunciadas por cada um dos componentes do Coro.)

CORO (uma fala para cada um, as três primeiras bem baixinho):
– Krishnaaa…
– Krishnaaa…
– Krishnaaa…
– Ele vem, coroado de luz!
– Ele vem, o Radiante, o Vencedor!
– Ele vem, mais manso que a pomba, mais doce que o mel!
– Ele vem, e todos os corações se sentirão repletos de amor!

(Enquanto as últimas palavras são ditas, Devaki ergue e desce os braços para o colo, simbolizando a chegada de Krishna. Depois, ela faz de conta que deposita a criança entre os pastores e, em seguida, vai recuando até se colocar junto de Mahadeva.)

 

CENA 4

Krishna conta suas façanhas para as pastoras.

 

(Krishna, que estava sentado aos pés de Mahadeva, levanta-se. Mahadeva tira-lhe a túnica branca, e ele surge vestido de pastor. Desce para o meio da cena e é cercado pelas pastoras.)

PASTORAS (uma ou todas):
– Ó herói! Conta para nós tuas façanhas e nos ensina a dançar tuas palavras!

KRISHNA (fala pausadamente):
– Um dia, na cordilheira,
subindo ao pico mais alto,
avistei um santo homem
e por ele fui chamado.
Ele então foi me dizendo
palavras de muita força,
que por dentro me queimavam,
como se fossem de fogo.

(Krishna canta junto com o Coro, enquanto ele e as pastoras dançam.)

KRISHNA E CORO (cantam):
“Krishna, Krishna! – ele disse –
és filho de Mahadeva! Mahadeva!
E irás por toda parte,
ó grande herói da terra!
Vencerás terríveis feras:
os touros e as serpentes.
Vai, ó grande Krishna!
Vai as tribos libertando
de todos os tiranos!”

KRISHNA (parando a dança, diz às pastoras):
– Quase tudo o que ele disse
já fiz. E nem sei o nome
do santo homem,
que eu procuro a vida inteira
na cordilheira.

PASTORAS:
– Que farás agora, Krishna?

KRISHNA:
– Só me falta vencer a grande serpente, que está sempre ao lado do Rei das Serpentes. E é o que farei!

PASTORAS (assustadas):
– Oh, oh, oh, oh, oh, oh!!… (Elas fogem, e Krishna sai.)

 

CENA 5

Krishna luta contra a grande serpente.

 

(Krishna entra pela esquerda, com a espada na mão. Os Filhos da Lua estão à direita.)

REI DAS SERPENTES:
– Que desejas, pastor?

KRISHNA:
– Venho pedir que me deixes lutar contra a grande serpente.

REI DAS SERPENTES:
– Tu não conseguirás vencê-la nunca!
Seu olhar apavora o mais valente.
Seus anéis já mataram muitos homens.
Ela te espia. Já estás em seu poder!
Só te resta adorá-la, ou perecer!

(O tema de Krishna é tocado na flauta, enquanto ele é cercado pelos Filhos da Lua e simula a luta contra a serpente e a vitória, dando um grito final.)

KRISHNA:
– Haaaa!

FILHOS DA LUA (espantados, abrindo o círculo):
– Oh, oh, oh, oh, oh!!….

(Krishna fica em atitude de vencedor, as pernas um pouco afastadas, e a espada com a ponta no chão, do lado direito.)

1º FILHO DA LUA:
– Quem é esse homem?

REI DAS SERPENTES:
– Quem és tu, pastor?

KRISHNA:
– Sou Krishna, o Radiante, o Vencedor!

2º FILHO DA LUA:
– Krishna? Quem não ouviu falar de Krishna, herói famoso pela valentia?

3º FILHO DA LUA:
– Não sei bem de onde vem, dos montes… longe…

RAINHA (ao Rei dos Touros):
– Tão grande herói quem sabe nos liberta do santo anacoreta? De Vasichta!

FILHOS DA LUA (amedrontados):
– Vasichta!…Vasichta!…

REI DOS TOUROS:
– Suas ameaças ainda me perseguem.
Não consigo esquecer o que ele disse:
que minha irmã seria mãe daquele
que virá dominar a todos nós.
(Dirige-se a Krishna)
– Aproxima-te, Krishna! Eu te convido
para ser o meu guia nas montanhas.
Tenho um terrível inimigo nelas.
O nome desse homem é Vasichta.
É preciso matá-lo! Tu concordas,
ou tens medo das matas tenebrosas?

KRISHNA:
– Vamos, senhor! Eu nunca tenho medo.

 

CENA 6

Krishna reencontra Vasichta e inicia sua missão

 

(Krishna e o Rei dos Touros caminham pela floresta.Tocado na flauta, o tema de Krishna para, sempre que os dois param.)

KRISHNA (parando):
– O céu ficou escuro de repente, e a selva está negra!

REI DOS TOUROS:
– É o malvado Vasichta, atiçando o bosque contra mim. Estás com medo, Krishna?

KRISHNA:
– Mesmo que o céu e a terra mudem de aspecto e de cor, não tenho medo!

REI DOS TOUROS:
– Então, avança! (Eles andam ao som da flauta)

KRISHNA (parando):
– Jamais vi o céu escuro assim, ou as árvores se retorcerem tanto! Teu inimigo é bem poderoso!

REI DOS TOUROS:
– Um herói dos montes, como tu, um matador de serpentes, tem medo?

KRISHNA:
– Mesmo que o céu caia e a terra trema, não tenho medo!

REI DOS TOUROS:
– Então, avança! (Eles andam ao som da flauta)

KRISHNA (parando):
– Teu inimigo será algum deus? Pois os próprios deuses o protegem!

VASICHTA (surge de pé, em atitude de receber ou abençoar, e canta numa nota só):
“Ommmm….”

REI DOS TOUROS (exclama):
– É esse! Esse é Vasichta!

KRISHNA (alegre e admirado):
– É o santo homem que encontrei na cordilheira! Seu nome é Vasichta?

REI DOS TOUROS (apressando-o):
– Sim, é Vasichta. Mata-o! Mata-o!

VASICHTA:
– Treme, ó Rei! Este é Krishna, o consagrado,
filho de Devaki, de tua irmã,
senhor dos homens, vencedor das feras.
– Treme, ó Rei, e aguarda o que te espera!

REI DOS TOUROS (esticando o arco):
– Eu matarei o filho de Devaki!

(No momento em que o Rei dos Touros solta o arco, Krishna se ajoelha aos pés de Vasichta. Vasichta faz um movimento de quem foi atingido pela flecha e cai. O Rei dos Touros foge correndo.)

KRISHNA (grita, vendo que Vasichta cai):
– Oh,Vasichta!!

VASICHTA:
– Por que gritas,
ó filho de Mahadeva?
A flecha não fere a alma.
A vítima é o vencedor.
Brama está à minha espera.
Ergue-te, Krishna! Triunfa!
Serás o Renovador!

(Vasichta recua para junto de Mahadeva. Krishna fica de pé, em atitude de recolhimento. Mahadeva desce e vem vestir nele de novo a túnica branca.)

KRISHNA (exclama, erguendo os braços):
– Glória a ti, Mahadeva!

(Enquanto Krishna, pausadamente, diz os versos seguintes, os Filhos do Sol vão entrando, chamando os outros com acenos e tirando o manto que os anacoretas lhes puseram. Uma flauta pode tocar baixinho o tema de Krishna só uma vez.)

KRISHNA (diz trecho do Bhagavad Gîtâ, de pé, com os braços caídos, ligeiramente abertos, e olhando para cima):
– “Eu sou a harmonia dos sons…
Eu sou o vento do ar…
Eu sou o esplendor do fogo…
Eu sou o sabor da água…
Eu sou o perfume sagrado da terra…”

(Todos os Filhos do Sol já o rodeiam e se sentam para ouvi-lo.)

KRISHNA:
– “O homem bom é como a árvore frondosa
que abriga o viajante cansado.
O homem bom é como a árvore do sândalo
que perfuma o machado que a fere…”

(Durante os versos seguintes, do Bhagavad Gîtâ, Krishna vai saindo lentamente, seguido pelos Filhos do Sol.)

KRISHNA:
– “Eu sou a harmonia dos sons…
Eu sou o vento do ar…
Eu sou o esplendor do fogo…
Eu sou o sabor da água…
Eu sou o perfume sagrado da terra…”

 

CENA 7

Vitória dos Filhos do Sol sobre os Filhos da Lua

 

(Enquanto o Coro fala, os Filhos do Sol entram pela esquerda, guiados por Krishna, e os Filhos da Lua pela direita, como na primeira cena.)

CORO:
– E Shiva-Mahadeva, o deus imenso,
destrói e regenera em cada tempo.
Ouve-se o som das conchas assopradas…
(som dos instrumentos, se possível)
O toque das cornetas já se escuta…
Tambores…Trombetas… Cítaras… Címbalos…

(Enquanto os Filhos do Sol gesticulam com a espada, os Filhos da Lua vão tombando à sua frente. O Coro faz a mesma exclamação da primeira cena.)

CORO:
– Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah…

FILHOS DO SOL (dão os três gritos de vitória):
– Ha! Ha! Ha!

KRISHNA (exclama):
– Vasichta!
Os Filhos do Sol venceram!
Minha tarefa está terminada!

(Krishna fala na frente, rodeado pelos Filhos do Sol e da Lua, que começam a se misturar no terceiro verso.)

KRISHNA (pausadamente):
– “Entre as estrelas sou o Sol,
entre os astros sou a Lua.
Eu sou aquele cuja face se volta para todos os lados.”

KRISHNA (diz versos do Bhagavad Gîtâ):
– Entre as letras sou o A.
(todos erguem os braços)
Entre as palavras sou a conjunção.
(todos dão-se as mãos)
Eu sou aquele cuja face se volta para todos os lados. (ele faz esse movimento)

(Neste momento, Krishna recua para junto de Mahadeva, falando até terminar.)

– Eu sou a harmonia dos sons…
Eu sou o vento do ar…
Eu sou o esplendor do fogo…
Eu sou o sabor da água…
Eu sou o perfume sagrado da terra…

TODOS (exclamam):
– Glória a ti, Mahadeva!

*1: SCHURÉ, Edouard. Os Grandes Iniciados: Esboço da História secreta das Religiões. São Paulo: Ibrasa, 1985.
*2: LORENZ, Francisco Valdomiro (trad). Bhagavad Gítâ. São Paulo: Empresa Editora O Pensamento Ltda., 5ª edição, data n/d.
*3: MELLO E SOUZA, João Baptista de. Sacuntala de Calidasa: e outras histórias de heroísmo e amor. Rio de Janeiro: Ediouro, data n/d.

 

 

 

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