Muito Barulho Por Nada

 

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peça de William Shakespeare

adaptação de Ruth Salles
a partir do original e da tradução de Carlos Alberto Nunes

PERSONAGENS

Dom Pedro, Príncipe de Aragão.
Dom João, seu irmão bastardo.
Cláudio, jovem fidalgo de Florença.
Benedito, jovem fidalgo de Pádua, conde.
Leonato, governador de Messina.
Antônio, seu irmão.
Baltasar, criado de Dom Pedro.
Borracho e
Conrado, seguidores de Dom João.
Frei Francisco.
Um Escrivão.
Um Pajem.
Hero, filha de Leonato.
Beatriz, sobrinha de Leonato.
Margarida e
Úrsula, criadas de quarto de Hero.
Dogberry e
Verges, chefes dos guardas.
Mensageiro
Guarda Jorge
Guarda Hugo
Nobres
Cupidos (personagens mudas, com entradas à escolha da direção de cena)

Cena: Messina

PRIMEIRO ATO

Cena 1

Diante da casa de Leonato.

Leonato, Hero, Beatriz, o Mensageiro; depois, Dom Pedro, dom João, Cláudio, Benedito e outros.
Leonato, Hero e Beatriz estão diante da casa de Leonato. Chega o Mensageiro, que entrega uma carta a Leonato, que a lê.

 

LEONATO: – Diz esta carta que Dom Pedro de Aragão chega hoje a Messina.

MENSAGEIRO: – É verdade, senhor Leonato; deixei-o bem perto daqui.

LEONATO: – Perdestes muitos fidalgos nessa batalha?

MENSAGEIRO: – Apenas alguns.

LEONATO: – A carta diz também que Dom Pedro conferiu grandes honras a um jovem florentino chamado Cláudio.

MENSAGEIRO: – Honras merecidas, senhor. Apesar de bem jovem, Cláudio demonstrou muita coragem. Com a aparência de um cordeiro, realizou façanhas de leão!

BEATRIZ (intrometendo-se): – Por favor, Mensageiro, poderias informar-me se o senhor Galo-de-Briga já voltou da guerra?

MENSAGEIRO: – Perdão, senhorita, mas não conheço nenhum oficial com esse nome.

HERO: – Minha prima se refere ao conde Benedito de Pádua.

MENSAGEIRO: – Ah, esse já voltou, e mais brincalhão que nunca.

BEATRIZ: – Hum… É bom saber. Assim fico preparada para lidar com suas ironias.

LEONATO: – Francamente, sobrinha, que tanto censuras no senhor Benedito?

MENSAGEIRO: – É um soldado valente, senhorita. Tem honra. Tem estofo!

BEATRIZ: – Ele é estofado como um sofá de enchimento mole, isso sim!

LEONATO: – Meu rapaz, não leves a mal minha sobrinha Beatriz. É que entre ela e o senhor Benedito há uma espécie de duelo de palavras.

BEATRIZ: – Duelo do qual ele sempre sai derrotado. E quem é agora seu companheiro de armas? Consta que ele muda de companheiro como de roupa ou de chapéu, conforme a moda.

MENSAGEIRO: – Pelo visto, deves ter riscado o nome de Benedito do seu caderninho, senhorita. Mas, olhe, ele está sempre na companhia do nobre Cláudio.

BEATRIZ: – Esse então já deve estar contaminado, pois o conde Benedito pega mais do que a peste.

MENSAGEIRO: – Por Deus, senhorita, desejo que penses bem de mim! Mas, não é Dom Pedro que vem chegando?

(Entram Dom Pedro, Dom João, Cláudio, Benedito, Baltasar e outros.)

DOM PEDRO: – Meu caro senhor Leonato! Cá estamos.

LEONATO: – Meu caro Dom Pedro! É com prazer que recebo a todos aqui.

DOM PEDRO (voltando-se para Hero): – Então, esta é tua filha?

LEONATO: – É, sim, meu amigo. (aparecem os dois cupidos com arco e flecha)

BENEDITO: – Aliás a jovem Hero é parecidíssima com o pai.

BEATRIZ: – Fico admirada, senhor Benedito, que tenhas dito alguma coisa. Ninguém te dá atenção…

BENEDITO: – É mesmo, senhorita Desdém? Pois quero que saibas que, com exceção de ti, todas as mulheres se apaixonam por mim, embora, para ser franco, eu não sinta amor por nenhuma.

BEATRIZ: – Que felicidade para elas! E, quanto a mim, prefiro ouvir meu cachorro latir para uma gralha que ouvir uma declaração de amor.

BENEDITO: – Isso é ótimo, pois assim um cavalheiro honesto evitará no rosto os arranhões que o Destino lhe tenha reservado.

BEATRIZ: – Se ele tiver um rosto como o teu, os arranhões não vão deixá-lo pior.

DOM PEDRO: – Ouvi-me, senhores, meu prezado amigo Leonato estende seu convite a todos nós, e sei que diz isso do fundo do coração.

DOM JOÃO: – Obrigado, senhor.

LEONATO: – Pois então entremos.

(Entram todos em casa de Leonato, com exceção de Benedito e Cláudio.)

CLÁUDIO: – Benedito, que tal achaste Hero, a filha do senhor Leonato? Não parece ter todas as melhores qualidades?

BENEDITO: – Sinceramente, acho-a muito baixinha para um alto louvor, ou muito pequena para um grande louvor.

CLÁUDIO: – Estás sempre brincando. Para mim, ela é a mais encantadora criatura que já vi.

BENEDITO: – Pois vejo muito bem sem óculos e não enxergo nada disso. Sua prima Beatriz é muito mais bela, apesar de ser a fúria que é. Mas, espero que não estejas com idéias de virar marido!

CLÁUDIO: – Pois estou.

BENEDITO: – Não me digas! Estás tão ansioso assim por enforcar-te? Olha, Dom Pedro vem vindo à nossa procura.

DOM PEDRO (chegando): – Que segredo vos manteve aqui, para não entrardes em casa de Leonato?

BENEDITO: – O segredo é de Cláudio, e a obediência me obriga a revelá-lo. Ele está apaixonado por Hero, a pequena filha de Leonato.

CLÁUDIO: – Sinto que lhe tenho grande amor.

DOM PEDRO: – E ela o merece.

BENEDITO: – Não é possível! É verdade que sou muito grato à mulher que me gerou. Mas, quanto às outras, reservo-me o direito de não confiar em nenhuma. Conclusão: desejo continuar solteiro.

DOM PEDRO: – Pois antes de morrer, ainda hei de te ver pálido de amor.

BENEDITO: – Pálido de cólera, doença ou fome, sim. De amor, nem pensar.

DOM PEDRO: – Está bem, mas, por enquanto, entra em casa de Leonato e avisa a ele que não faltarei à ceia, pois ele fez grandes preparativos para nós.

BENEDITO: – Pois não, senhor. (entra em casa de Leonato.)

CLÁUDIO: – Dom Pedro, poderias ajudar-me?

DOM PEDRO: – Estou ao teu dispor, meu filho. Fala!

CLÁUDIO:
– Oh, senhor, antes mesmo desta guerra,
eu já sofria o encanto irresistível
da jovem Hero. Estou apaixonado.
Estou perdidamente apaixonado!
Porém não sei se vou saber dizer
as palavras para pedir-lhe a mão…

DOM PEDRO:
– Fica tranqüilo, Cláudio. Estou sabendo
que há um baile de máscaras à noite.
Disfarçado, farei o teu papel
e falarei de amor à linda Hero.
Depois, direi ao pai o que se passa.
A conclusão é que ela será tua.
Ponhamos logo em prática este plano. (Saem.)

 

Cena 2

Um aposento em casa de Leonato.
Leonato e seu irmão Antônio.
Entram Leonato e Antônio, por lugares diferentes.

 

LEONATO: – E então, Antônio, teu filho já providenciou a música?

ANTÔNIO: – Está providenciando, meu irmão. Mas tenho notícias estranhas para te contar. Nem dá para acreditar.

LEONATO: – Notícias boas?

ANTÔNIO: – Depende do ponto de vista. Imagina que um de meus criados ouviu o príncipe Dom Pedro dizendo a Cláudio que estava apaixonado por tua filha Hero e que pretendia revelar-lhe isso no baile desta noite e depois falar contigo.

LEONATO: – E esse teu criado é bom da cabeça?

ANTÔNIO: – Parece. Queres falar com ele?

LEONATO: – Não, não! Vamos encarar o caso como um sonho até que se torne realidade. Mas é melhor que vás informar minha filha, para que ela se prepare para uma resposta. (Várias pessoas atravessam a cena.) – Primos! Amigos! Muito cuidado com os preparativos! (Saem todos.)

 

Cena 3

Outro aposento em casa de Leonato.

Dom João, irmão de Dom Pedro, e seus seguidores Conrado e Borracho.
Entram Dom João e Conrado, conversando.

 

CONRADO: – Mas, que tristeza é essa, milorde? Há pouco tempo te rebelaste contra teu irmão Dom Pedro; mas já caíste em suas boas graças novamente. Agora é necessário que plantes com cuidado para colheres o melhor mais tarde.

DOM JOÃO: – Prefiro ser lagarta numa cerca a ser uma flor nas boas graças de meu irmão. Mas quem vem chegando aí? (Entra Borracho.) – Quais as novidades, Borracho?

BORRACHO: – Acabo de ver o príncipe teu irmão ser regiamente tratado por Leodato, e nem te conto! É de se esperar um casamento.

DOM JOÃO: – Opa! Quem sabe isso nos serve de alicerce para construirmos alguma maldade! E quem é o imbecil que pretende enforcar-se?

BORRACHO: – Ora, o braço direito de teu irmão. O tal de Cláudio.

DOM JOÃO: – E com quem? Com quem?

BORRACHO: – Com Hero, a filha e herdeira de Leodato.

DOM JOÃO: – Aquela franguinha? E como soubeste disso?

BORRACHO: – Fiquei escondido atrás de uma cortina e pude ouvir que o príncipe ia mascarar-se e declarar-se a Hero no baile. E, depois de obter seu consentimento, ia passá-la para o Conde Cláudio.

DOM JOÃO: – Ah, isso está uma beleza. Se houver algum jeito para eu me atravessar em seu caminho, a alegria me volta! Estais dispostos a me ajudar?

CONRADO E BORRACHO: – Até à morte, senhor!

DOM JOÃO: – Pois vamos para a grande ceia e veremos o que se pode fazer. (Saem.)

 

SEGUNDO ATO

Cena 1

Sala em casa de Leonato.

Leonato, Antônio, Hero, Beatriz; depois, Dom Pedro, Cláudio, Benedito, Baltasar, Dom João, Borracho, Margarida, Úrsula e outros, todos mascarados; os cupidos.
Entram Leonato, Antônio, Hero e Beatriz.

 

LEONATO: – Dom João não esteve na ceia?

ANTÔNIO: – Não o vi.

BEATRIZ: – Que homem carrancudo. Sempre que ele vem aqui me dá azia.

HERO: – É de temperamento tristonho.

BEATRIZ: – O homem ideal seria o meio termo entre ele e Benedito: um não diz nada, parece um retrato na parede; o outro fala sem parar.

LEONATO: – Minha sobrinha, com essa língua tão ferina nunca arranjarás marido.

BEATRIZ: – E essa será uma felicidade que vou agradecer da manhã à noite. Oh, meu tio, eu não suportaria um marido barbado. Prefiro dormir na lã.

ANTÔNIO: – Nesse caso, arranja um imberbe.

BEATRIZ: – O indivíduo com barba é mais que um rapaz, e o imberbe, menos que um homem. Nenhum me serve.

ANTÔNIO: – Pois ainda espero vê-la casada.

BEATRIZ: – Só se Deus fizer outro homem que não seja do pó da terra. Já pensaste, ser dominada por um bloco de poeira insolente? Além disso, todos os filhos de Adão são meus irmãos. E eu considero pecado casar com um parente.

LEONATO: – Hero, não te esqueças de minha recomendação, no caso de te fazer o príncipe algum pedido de casamento no baile.

HERO: – Sim, meu pai.

BEATRIZ: – Dá-lhe uma resposta dançante, dizendo que em todas as coisas há compasso: acredita, Hero, o noivado é ardente e rápido como uma giga escocesa; o casamento é sério e cerimonioso como um minueto; depois vem o arrependimento no compasso de cinco da pavana, até acabar caindo na sepultura.

LEONATO: – Cruzes, sobrinha, que visão das coisas!

BEATRIZ: – É. Tenho muito boa vista.

ANTÔNIO: – Irmão, é melhor nos afastarmos. Já vêm chegando os mascarados.

(Entram Dom Pedro, Cláudio, Benedito, Baltasar, Dom João, Borracho, Margarida, Úrsula e outros, de máscaras.)

DOM PEDRO (a Hero): – Senhorita, consentes em dançar com um amigo?

HERO: – Se fores simpático, estou à tua disposição, principalmente se eu gostar de tuas feições, pois queira Deus que o alaúde não se pareça com seu estojo.

DOM PEDRO: – Podes crer: minha máscara é como a palhoça de Filemón; dentro dela mora Júpiter.

(***nota***Filemón vivia com sua mulher numa aldeia da Frígia. Quando Júpiter e Mercúrio visitaram essa aldeia, ninguém quis hospedá-los a não ser Filemón. Júpiter transformou sua palhoça em templo e abençoou a vida do casal. (N.T.))

HERO: – Palhoça? Nesse caso, devias ter a máscara coberta de palha.

DOM PEDRO: – Fala baixo, se falas de amor… (Dançam.)

BALTASAR (a Margarida): – Desejaria que gostasses de mim.

MARGARIDA: – É melhor não, para teu próprio bem, pois tenho péssimos defeitos. Por exemplo: digo minhas orações em voz alta.

BALTASAR: – Pois isso aumenta meu amor. Assim, os ouvintes podem dizer “Amém”!

MARGARIDA: – Que Deus me conceda um bom par para a dança!

BALTASAR: – Amém! (dançam)

MARGARIDA: – E que o leve para longe de mim depois que acabar a dança. Então! Responde logo, coroinha!

BALTASAR: – Chega de palavras e vamos indo. (dançam)

ÚRSULA (a Antônio): – Ah, eu te reconheço, apesar da máscara. És o senhor Antônio! Com esse jeito de balançar a cabeça…

ANTÔNIO: – Estás muito enganada. Estou apenas fazendo uma imitação.

ÚRSULA: – Com essa mão magra que não pára em lugar algum? És ele mesmo, confessa! (Dançam.)

BEATRIZ (a Benedito): – E quem disse que sou orgulhosa?

BENEDITO: – Desculpa, mas não posso revelar.

BEATRIZ: – Ah… Já sei! Foi o senhor Benedito.

BENEDITO: – Quem é esse Benedito?

BEATRIZ: – Ora, é o bobo que distrai o príncipe, um pobre diabo que só sabe inventar mentiras absurdas.

(Os cupidos aparecem).

BENEDITO: – Se eu chegar a conhecê-lo, direi a ele tua opinião a seu respeito. (Música dentro.) Ouves a música? Vamos acompanhar os guias.

(Dança. A seguir, todos vão saindo, com exceção de Dom João, Borracho e Cláudio.)

DOM JOÃO: – Já é certeza meu irmão estar apaixonado por Hero; chamou o pai dela em particular para pedi-la em casamento. Todas as damas a acompanharam; na sala só ficou um mascarado.

BORRACHO: – É Cláudio. Eu o reconheci pelo andar.

DOM JOÃO (a Cláudio): – Não és o senhor Benedito?

CLÁUDIO: – Tu me conheces bem; sou ele mesmo.

DOM JOÃO: – Senhor, meu irmão o tem em alta estima. Ele está apaixonado por Hero; eu te peço, procura fazer com que ele desista dela, pois ela é de nascimento inferior ao dele.

CLÁUDIO: – Como sabes que ele lhe tem amor?

DOM JOÃO: – Ouvi quando ele lhe declarou estar apaixonado.

BORRACHO: – Eu também ouvi; jurou que ficariam noivos esta noite.

DOM JOÃO: – Vamos indo para o banquete. (Saem Dom João e Borracho.)

CLÁUDIO:
– Fui Benedito para responder-lhe.
Mas foi Cláudio que ouviu a má notícia.
A amizade é leal em quase tudo,
menos no amor. Dom Pedro apaixonou-se…
O amante deve usar a própria língua,
sem se valer da língua de um agente.
Pois a beleza tem feitiços, filtros
que mudam o fiel em infiel.
Isso é fato comum, que eu esqueci
de prever. À minha Hero dou adeus!

(Benedito torna a entrar.)

BENEDITO: – És o Conde Cláudio?

CLÁUDIO: – Ele mesmo.

BENEDITO: – É bom que me acompanhes, pois o príncipe já conquistou tua Hero.

CLÁUDIO: – Desejo que seja feliz com ela.

BENEDITO: – Mas isso é modo de falar? Estás agindo como os cegos: alguém te rouba a comida e descarregas uma paulada no poste.

CLÁUDIO: – Já que não sais, saio eu. (Sai.)

BENEDITO: – Pobre ave ferida… Foi refugiar-se nalgum canto. E a senhorita Beatriz que me conhece tão bem e, ao mesmo tempo, tão mal! Chamou-me de bobo do príncipe. Será que mereço esse título por ser de gênio alegre? Mas hei de vingar-me como puder.

(Torna a entrar Dom Pedro.)

DOM PEDRO: – Sabes, por acaso, onde está o conde Cláudio?

BENEDITO: – Na verdade, milorde, acabo de encontrá-lo e de lhe comunicar que conseguiste agradar a jovem Hero. E ele reagiu como um colegial que, feliz por ter achado um passarinho, mostra-o a um colega que acaba ficando com ele.

DOM PEDRO: – Mas eu só queria ensinar o passarinho a cantar, para depois entregá-lo ao verdadeiro dono.

BENEDITO: – Se o passarinho cantar de acordo com o que dizes, então é porque falas honestamente.

DOM PEDRO: – Olha, a senhorita Beatriz tem contas a ajustar contigo; seu par na contradança disse que andas falando mal dela.

BENEDITO: – Ora! Eu é que suportei seus maus tratos com a paciência de uma pedra. Atirou-me tantos sarcasmos, que eu parecia estar servindo de alvo para um exército inteiro. Não me casaria com ela nem que ela trouxesse como dote tudo quanto Adão possuía antes do pecado. Não me fales mais dessa pessoa!

DOM PEDRO: – Só que ela vem chegando!

BENEDITO: – E não tens uma incumbência qualquer para mim? Mandar-me até os antípodas buscar-te um palito, ou trazer-te a medida do pé do Preste João?

DOM PEDRO: – Nenhuma, a não ser desejar-te boa companhia.

BENEDITO: – Oh, céus! Se há um prato que não suporto é a senhora Língua!

(Benedito sai. Tornam a entrar Cláudio, Beatriz, Hero e Leonato.)

DOM PEDRO: – Como estás vendo, senhorita, perdeste o coração do senhor Benedito.

BEATRIZ: – Bem, se o perdi, não faço a menor questão de achá-lo de novo. Mas, senhor, aqui te trago o conde Cláudio que me mandaste procurar.

DOM PEDRO: – Ora essa, conde, pareces doente! Por que estás tão triste?

CLÁUDIO: – Não estou triste nem doente, milorde.

BEATRIZ: – Nem alegre, nem com saúde. Está apenas polido como uma laranja amarela, cuja cor ele incorporou de tanto ciúme.

DOM PEDRO: – Mas é então uma suspeita que não tem a menor base. Vê, Cláudio, falei em teu nome com a linda Hero e consegui a mão dela para ti. O pai já deu o consentimento. Só falta marcares o dia do casamento. E que Deus te faça feliz!

LEONATO: – Conde, recebe minha filha e, junto com ela, minha fortuna. A graça celeste diz Amém a esta união.

BEATRIZ: – É tua deixa, Cláudio. Anda, fala!

CLÁUDIO: – O silêncio fala melhor que a própria fala. Minha felicidade seria pequena, se eu conseguisse dizer que é grande. Senhorita Hero, serei teu para sempre.

HERO: – Tu estás em meu coração.

BEATRIZ: – Oh, céus, um casamento! Primos, Deus vos conceda alegria.

LEONATO (a Beatriz): – Não vais cuidar do que combinamos?

BEATRIZ (despedindo-se): – Sim, meu tio. Com licença de todos. (Sai.)

DOM PEDRO: – Conde Cláudio, quando pensas em levar a noiva ao altar?

CLÁUDIO: – Amanhã, milorde.

LEONATO: – Não, meu caro, só dentro de sete dias, o que ainda é um prazo curto para a realização de nosso projeto.

DOM PEDRO: – O nosso é um trabalho de Hércules, que consiste em deixar o senhor Benedito e a senhorita Beatriz morrendo de amores um pelo outro. Desejo vê-los casados, e o conseguirei, se vós três seguirdes minhas indicações.

LEONATO: – Estou ao teu dispor, milorde.

CLÁUDIO: – Eu também.

HERO: – E eu farei o possível para ajudar minha prima a arranjar um bom marido.

DOM PEDRO: – Benedito é homem de valor comprovado e honestidade a toda a prova. Se conseguirmos que os dois se amem, Cupido pode aposentar seu arco, e seremos as novas divindades do amor! Vinde comigo, para ficardes sabendo do meu plano. (Saem.)

 

Fim da Cena 1 do Ato 2

 

(continua)

 

Havendo interesse em representar a peça, enviaremos o texto completo em PDF. A escola deve solicitar pelo email: [email protected]
Favor informar no pedido o nome da instituição, endereço completo, dados para contato e nome do responsável pelo trabalho.

 

 

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