O Herói Beowulf

 

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peça de Ruth Salles

Esta peça baseia-se num mito nórdico, a história do rei godo que libertou os dinamarqueses do monstro Grindel.

PERSONAGENS:

Dinamarqueses:
Rei Rodgar
Povo (cantores: trabalhadores e guerreiros)
Rainha Waldiwa
Damas
Sentinela
Guarda
Grindel, o monstro
Askher, conselheiro do rei.

Godos:
Hugileik, rei dos godos
Beowulf, sobrinho do rei
Alguns súditos do rei
Guerreiros godos (7), inclusive Hunfred

 

Cena: de um lado fica a Dinamarca; do outro, a Gotlândia; no centro, mais à frente, o pântano de Grindel.

 

CORO DOS DINAMARQUESES (canta):
“O nosso primeiro rei
– não há quem possa explicar –
veio ainda criancinha
do misterioso mar,
sobre a palha deitadinho,
num escudo a boiar.
E foi valente guerreiro
e fundou o nosso reino.
Chegando ao fim da vida,
nos fez ainda um pedido,
e por todos os guerreiros
ele foi obedecido.
Numa nau foi colocado,
de tesouros rodeado.
E a nau se foi pelo mar
para nunca mais voltar.”

REI RODGAR:
– E eu, seu bisneto Rodgar,
na Dinamarca reinando,
vejo meu povo feliz,
trabalhando e cantando.

GUARDA (aproxima-se aflito):
– Ó rei Rodgar,
é terrível a notícia que tenho para dar:
saiu do pântano o monstro Grindel
e arrombou os muros do castelo.

CORO DOS DINAMARQUESES:
– Ó céus! O monstro Grindel?!

REI RODGAR (sério e desanimado):
– Ah… Não há ninguém que o possa vencer!
Este povo e este país como irei defender?

(Entra o monstro Grindel. Vai para cima dos dinamarqueses, e todos caem de bruços com um só grito.)

CORO DOS DINAMARQUESES:
– Ooohhh!… (Grindel sai. Os dinamarqueses se levantam)

BEOWULF (do lado dos godos, dobra um joelho diante do rei Hugileik):
– Ó Hugileik! Ó rei dos godos!
Um monstro terrível
ameaça o povo e o rei da Dinamarca.
Eu, teu sobrinho Beowulf,
quero ir lá para salvá-los.
Suplico que sete homens e um barco
me sejam dados.

REI HUGILEIK (dando ordem aos godos):
– Que seja tudo providenciado!
(dirigindo-se a Beowulf):
– Sei que você tem força e coragem.
Dou permissão para a viagem.

BEOWULF E GUERREIROS (falam e balançam com ritmo, no meio da cena):
– Nosso barco vai nas águas,
vai nas vagas navegando.
Já se veem os penhascos!
Vamos lá desembarcando.

SENTINELA DOS DINAMARQUESES (adiantase e recebe os godos):
– Quem são os senhores,
que chegam aqui no momento
em que reina o sofrimento?

BEOWULF:
– Somos godos. Sou sobrinho do meu rei.
Viemos todos só para ajudar.
Leve-me até o rei Rodgar.
Esse monstro Grindel eu vencerei.

(A sentinela leva-o até Rodgar. Beowulf dobra o joelho, enquanto o rei fala.)

REI RODGAR:
– Beowulf, seja bem-vindo!
Ouvi falar no seu valor.
Suas mãos valem por trinta
em valentia e vigor.

BEOWULF (já de pé):
– Sei desse homem monstruoso.
E sei que luta desarmado.
Eu também lutarei com ele
só com a força dos meus braços.
Se ele, porém, me destruir,
mande aos godos minha couraça.
Ela pertence à nossa estirpe
e entre godos é sempre herdada.

HUNFRED (1º guerreiro godo, fala com despeito, mas depois se torna amigo de Beowulf):
– Você é aquele Beowulf,
que foi vencido por Brecka,
quando os dois, no mar aberto,
disputavam a nadar?

BEOWULF:
– Não foi bem assim, ó Hunfred!
Naquele dia, no mar,
lutei com monstros terríveis
que me vinham arrastar
para o fundo dos abismos.
Eu cheguei depois de Brecka.
Derrotei todos os monstros!
Se você fosse valente,
como falando aparenta,
Grindel não saía mais
do pântano lamacento.

RAINHA WALDIWA (adiantando-se com suas damas):
– Sou a rainha Waldiwa,
esposa do rei Rodgar.
Estas joias resplandecentes
quero lhes dar de presente.
Implorei com tal fervor,
que nos veio um salvador. (as damas distribuem as joias)

REI RODGAR:
– Herói Beowulf, com seus guerreiros,
você é o primeiro estrangeiro
a quem confio meu castelo!
Que ele seja bem guardado!
Por Askher, meu conselheiro,
vocês serão orientados.

ASKHER (a Beowulf):
– Faça como pretendia,
mas tome muito cuidado,
pedindo ajuda do céu!
Uma possante magia
faz com que espadas de aço
não possam ferir Grindel.
Lute somente com os braços!

(Entra Grindel. Os guerreiros godos, na frente e no centro da cena, fazem um semi-círculo e cercam Beowulf. Este segura os braços do monstro, que vai aos poucos se ajoelhando, até que se arrasta e foge.)

1º GUERREIRO, HUNFRED:
– Grindel está fraquejando.
Beowulf está vencendo!

2º GUERREIRO:
– Lá vai o monstro fugindo
para o pântano, correndo!

3º GUERREIRO:
– Grindel, ferido de morte,
depressa estará morrendo!

4º GUERREIRO:
– Amigos dinamarqueses,
podem voltar ao castelo!

5º GUERREIRO:
– À rainha agradecemos
aquelas joias tão belas…

6º GUERREIRO:
– Sosseguem, meus bons amigos!
Ergamos as mãos ao céu!

7º GUERREIRO:
– Beowulf é grande herói.
Venceu o monstro Grindel!

CORO DOS DINAMARQUESES:
– Viva! Viva Beowulf,
o nosso herói salvador!
Soem gritos de alegria,
soem cantos de louvor!

(Os guerreiros godos se recostam para descansar. O povo se recolhe.)

CORO DOS GODOS (em seu país):
– Agora descansam todos,
mas não sabem do pior:
vive no fundo do pântano
outro monstro vingador.

GUARDA (chega-se ao rei Rodgar, aflito):
– Rei Rodgar, trago notícia
que a todos causou terror:
ameaça nossas vidas
um monstro ainda maior!

REI RODGAR:
– Beowulf venceu Grindel.
Mas um monstro ainda maior, quem vencerá?

BEOWULF:
– Agora mesmo vou lá,
buscá-lo em seu próprio abismo.
E, por ser grande o perigo,
ninguém mais irá comigo.

HUNFRED:
– Beowulf, leve esta espada!
Ela já venceu gigantes.

BEOWULF:
– Sim, Hunfred, eu lhe agradeço.
Fiquem todos confiantes.
(Beowulf se dirige ao pântano. Fica no canto, oculto por uma pedra.)

CORO DOS GUERREIROS GODOS (enquanto Beowulf some no pântano atrás da pedra e, depois, reaparece no fim):
1º:
– O herói saltou nas águas, que o engoliram.
2º:
– O monstro decerto o arrasta ao seu abismo.
3º:
– O herói não volta mais… Já foi vencido…
4º:
– Sob as garras desse monstro terá morrido?
5º:
– Oooh! No pântano se forma um redemoinho!…
6º:
– Beowulf sobe das águas! E vem sorrindo!
7º:
– Beowulf venceu o monstro do grande
abismo!

CORO DOS DINAMARQUESES (canta):
“Vamos lá, dinamarqueses,
festejar os godos!
Lá se vão em seus navios
os guerreiros todos.
Seu valor agradecemos.
E o valente Beowulf
nunca mais esqueceremos,
nunca mais esqueceremos!”

 

 

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