O herói Perseu

 

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Mitologia grega

peça de Ruth Salles

Esta peça, foi feita em hexâmetros, versos de seis pés métricos, e conta a história de um herói da mitologia grega que consegue vencer a terrível Medusa e libertar depois a bela Andrômeda do ataque do dragão. Herói é uma palavra que designa o filho de um deus com um ser humano. Há bastante movimento nesta peça.

A professora Ivani Almeida Blanco acrescentou alguns versos, que também transformei depois em hexâmetros. A música, tocada como introdução, é a mesma antiga melodia grega do Escólio de Seikilos. Conforme o número de alunos, as personagens farão parte do coro, saindo dele quando tiverem de agir em cena.

PERSONAGENS:
Coro
Perseu
Dânae, sua mãe
Acrísio, rei de Argos e pai de Dânae
Oráculo
Zeus, rei dos deuses e pai de Perseu
Éolo, deus dos ventos
Zéfiro, brisa leve
Díctis, pescador
Sua mulher
O rei de Serifo
Hermes, deus
Atena, deusa
Três ninfas
Três Greias
Medusa
Duas górgonas imortais, irmãs da Medusa
Andrômeda
Dragão

 

A SALVAÇÃO DE DÂNAE E PERSEU

O coro saúda Perseu e depois narra o que está acontecendo.

CORO (enquanto Acrísio se dirige ao Oráculo e depois arrasta para fora Dânae com um bebê embrulhadinho nos braços):
– Salve, Perseu, grande herói, filho de Dânae e Zeus!
Dânae, a bela princesa de Argos! Acrísio é seu pai.
Oh, que malvado esse pai! Ao saber que nascera Perseu,
– oh, que malvado esse rei! – atirou mãe e filho no mar!
Foi ao Oráculo. Soube que o neto o iria matar;
põe logo os dois numa cesta e lança a cesta nas ondas!
Zeus lá no Olimpo se ergue; depressa se põe a chamar:

ZEUS (destaca-se do coro):
– Éolo, ó vento que manda nos ventos, acode em socorro!

ÉOLO (destaca-se do coro):
– Sim, grande Zeus, mando o Zéfiro leve soprar sobre as ondas.

ZÉFIRO (dá voltas com seu véu):
– Vamos! Vogando nas vagas, vagueiam a mãe e o menino.
Vou devolvê-los à terra. À ilha Serifo chegaram.

MULHER DE DÍCTIS (olhando ao longe):
– Díctis, vem ver! Mãe e filho os deuses nos mandam do mar!

DÍCTIS:
– Vamos depressa acolhê-los! Daremos a eles um lar.

 

EM SERIFO, ANOS DEPOIS

CORO (Perseu se destaca do coro e pesca):
– Passam-se os anos, e Díctis ensina Perseu a pescar.
Dentro da névoa distante, Perseu vê as ninfas no mar.
(movem-se as ninfas)
Reina Poseidon nas águas, o deus que ninguém vê passar.

PERSEU (vendo Dânae se aproximar, triste):
– Mãe, por que choras?

DÂNAE:
– Querido Perseu, é que o rei de Serifo
quer que eu me case com ele. Não posso escapar dessa ordem.

PERSEU:
– Mãe, tem confiança! Eu falo com o rei. Ele há de escutar.

CORO (enquanto as cenas se passam):
– Pede Perseu pela mãe, mas o pérfido rei quer em troca
uma tarefa terrível: que traga a cabeça de um monstro!
Sim, da medonha Medusa! Serpentes envolvem seu crânio!
Quem a olhar bem de frente transforma-se em duro rochedo.
Mas o herói nada teme. Aos deuses implora conselho.
Hermes, Atena e as ninfas emprestam-lhe as prendas que têm.

ATENA (entrega-lhe o escudo; as ninfas falam junto):
– Toma este escudo de bronze polido. Ele serve de espelho.
Olha a Medusa somente através de seu brilho perfeito.

HERMES (dá-lhe a foice; as ninfas falam junto):
– Toma esta foice e corta com ela a cabeça do monstro!

1ª NINFA (dá-lhe as sandálias; os outros falam junto):
– Calça nos pés as sandálias aladas de ouro, Perseu!

2ª NINFA (dá-lhe o elmo; os outros falam junto):
– Põe na cabeça este elmo, Perseu. Ficarás invisível!

3ª NINFA (dá-lhe a bolsa; os outros falam junto):
– Leva esta bolsa! Põe nela a cabeça da horrível Medusa.

 

CORO DOS DOIS DEUSES E DAS TRÊS NINFAS

NINFAS:
– Segue o caminho que nós apontamos! Lá moram as Greias,
monstros medonhos! As três têm apenas um dente e um olho.
E, para usá-los, revezam-se. Pega-os na hora da troca!
Só desse modo as Greias dirão onde vive a Medusa.

PERSEU:
– Eu vos sou grato, ó ninfas e deuses. Já estou a caminho!

 

PERSEU E AS GREIAS

CORO (enquanto Perseu se movimenta):
– Parte Perseu como o vento, invisível aos olhos de todos.
Vê que as Greias disputam o olho e o dente que têm.

GREIAS (brigando):
– Só com um olho nós três enxergamos. – Eu vejo! – Eu não vejo!
– Só com um dente nós três mastigamos. – Eu como! – Eu não como!
(No momento certo, Perseu pega o dente e o olho.)

GREIAS (desesperadas):
– Oh, o meu olho! – O meu dente! – Devolve, devolve depressa!

PERSEU:
– Sim, mas depois que eu vencer a Medusa. Onde é sua casa?

GREIAS (apontando):
– Lá! Para lá! Sobre rios e mares e montes gelados!
Onde há rochedos pendentes.Vai logo! Meu olho! Meu dente!

 

ONDE VIVEM A MEDUSA E AS GÓRGONAS

CORO:
– Voa Perseu pelos ares com suas sandálias aladas. (movimento de Perseu)
Segue veloz sobre rios e mares e montes gelados.
Vê de repente rochedos pendentes! Têm forma de gente!!
Gente que olhou a Medusa de frente e virou dura pedra.

PERSEU (olha pelo escudo e vê que a Medusa dorme; ele tira as sandálias):
– Dorme a Medusa. Eu vejo através deste escudo polido.

MEDUSA (acorda rugindo):
– Quem se aproxima? Não vejo quem vem, mas quem vem eu destruo!

PERSEU:
– Meu negro elmo me torna invisível. Jamais me verás!

MEDUSA:
– Oh, maldição! Quem chegou é um herói protegido dos deuses.
(Perseu ataca-a, sempre olhando pelo escudo. Empurra-a para fora, sai com ela, depois volta.)

PERSEU (erguendo a bolsa):
– Já lhe cortei a cabeça! Guardei-a na bolsa de couro.

CORO:
– Olha! Cuidado, Perseu, com as irmãs imortais da Medusa!
Elas, as Górgonas, vêm furiosas, querendo matar-te!
És invisível. Procura enganá-las com muito ruído.
(Perseu obedece. As duas Górgonas o perseguem às tontas. Movimento dos três.)

CORO:
– Calça as sandálias aladas e foge, Perseu, para longe!
(Perseu obedece. As Górgonas rugem, furiosas, e se vão.)

 

ONDE AS GREIAS ESPERAM

CORO:
– Voa Perseu como o vento, invisível aos olhos de todos.
Ouve de longe o lamento das Greias.

GREIAS (estendendo os braços para o alto, desnorteadas):
– Meu olho! Meu dente!

PERSEU (grita de longe, atirando o dente e o olho perto das três):
– Vim devolver vossos bens. Eu cortei a cabeça do monstro!

GREIAS (procuram, tateiam, atrapalhadas):
– Oh, a Medusa? A Medusa!! Meu olho! Meu dente! Onde estão?

1ª GREIA:
– Já encontrei-os! E é minha vez!

2ª GREIA:
– É a minha!

3ª GREIA:
– É a minha!

GREIAS (trocando de olho e procurando Perseu):
– Oh, já voou, invisível, o filho de Dânae e Zeus… (elas voltam ao coro)

ANDRÔMEDA
(O coro se afasta um pouco, e aparece uma jovem amarrada numa rocha. Perseu para ali e tira o elmo. Está no meio de sua viagem de volta.)

PERSEU:
– Mas… quem será a donzela tão bela amarrada nas rochas?

ANDRÔMEDA:
– Jovem herói, sou Andrômeda, à espera de horrível dragão.
Pois minha mãe foi dizer a Poseidon que somos mais belas,
muito mais belas que as próprias nereidas, as ninfas do mar.
E, furioso, Poseidon exige o meu sacrifício.
Quando o dragão levantar-se das ondas, serei devorada! (ruído das águas)
Ele vem vindo! Já sobe das águas! Herói! Vem salvar-me!

CORO (aconselhando Perseu):
– Corre Perseu! Põe o elmo e, abrindo a bolsa de couro,
mostra a cabeça da horrível Medusa ao dragão que vem vindo!
(Perseu obedece. O dragão fica petrificado.)

CORO:
– Eis o dragão transformado em rochedo. Não há mais perigo.

PERSEU (desamarra Andrômeda):
– Vamos, Andrômeda! Agora estás salva. Segura-te em mim!
Calço as sandálias aladas de ouro e te levo ao meu lar. (Saem.)

 

VOLTA A SERIFO

CORO (enquanto a cena se passa):
– Chega Perseu ao palácio e percebe preparos de festa.
Dânae, a mãe de Perseu, já vai indo casar-se com o rei.
Este pensou que o herói não voltasse da dura façanha.

(O coro como que se dispersa e se transforma em pessoas da corte. Pode haver aqui uma dança, que para com a entrada de Perseu.)

PERSEU:
– Rei, aqui estou! A tarefa eu cumpri. Solta, pois,minha mãe!

REI:
– Tu conseguiste? Não creio, Perseu. Eu exijo uma prova!
Só acredito se vejo a cabeça da horrível Medusa!

PERSEU:
– Fechem os olhos agora aqueles que creem em mim.
É um perigo mortal encarar a cabeça do monstro.

PESSOA DA CORTE:
– Não nos enganas, Perseu!

OUTRA PESSOA:
– Então pensas que estamos com medo?

OUTRA PESSOA:
– Prova que é mesmo verdade! Ou será que é mentira?

(Perseu vai abrindo a bolsa; todos põem as mãos diante dos olhos, menos o rei.)

PERSEU (tira a cabeça da bolsa e mostra):
– Zeus tenha pena de quem olha agora. A cabeça aqui está!
(O rei se transforma em rochedo.)

CORTE:
– Salve, Perseu, grande herói, que venceu a horrível Medusa!

PERSEU:
– Tive a ajuda de deuses e ninfas. A eles sou grato.

(A corte torna a formar o coro.)

CORO (enquanto a cena se passa):
– Livres, agora se alegram Andrômeda, Dânae, Perseu.
Este devolve a Atena, a Hermes e às ninfas as prendas.
(pausa para que isso seja feito)
Todos contentes retornam à casa do bom pescador.
Grande é o amor de Perseu e de Andrômeda, belo momento!
Muita alegria, pois logo amanhã vai haver casamento.

 

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