poema de Ruth Salles
Baseado na narrativa A Origem do Diamante, de Elisabeth Klein.
Lá no fundo da terra, na montanha,
disse um cristal claro de enxofre
ao carvão negro:
“Ah, como és feio!
Olha como sou lindo e reluzente!”
Lá no fundo da terra, na montanha,
disse um cristal claro de enxofre
ao carvão negro:
“Ah, como és feio!
Olha como sou lindo e reluzente!”
Era uma vez Nossa Senhora
a caminhar de madrugada
sempre esperando por Jesus;
e, seguindo campina afora,
em flores brancas espalhadas
ela pôs seus olhos azuis.
Tarobá e Naipi
se amavam de grande amor.
Tarobá era valente,
Naipi, linda como a flor.
Foi quando a cobra-grande
– a mboi-guaçu – comia sempre os olhos
dos bichos que caçava.
Desses olhos, ficava em seu bojo
a luz que eles guardaram
da claridade última que olharam.
Espelho-da-lua, Jaci-uaruá,
é o lago onde o jade decerto estará.
Junto ao Nhamundá,
junto aoTapajós,
quase em sua foz.
– Rio Amazonas, a deslizar,
conta-me histórias, vem-me alegrar!
Abanhenhenga, abanhenhenga, abanhenhenga…
Curupira vem de longe,
vem de longe, do Nahua,
que contou ao caraíba,
que contou para o tupi,
curupira do machado
de casco de jabuti…
É um segredo pra vocês:
os índios sabiam nem dançar
e muito menos cantar;
brincavam de combater
se queriam festejar.
– Eu tive de sair à noite.
Ai…
à noite vem o caipora!
Eu moro do lado de lá do lago,
nem no fundo nem no raso,
nem na tona nem na margem,
nem no centro…
Eu faço a minha viagem
na asa do lado de lá do vento,
sem rumo nem tempo.
Fui aonde não achei,
antes de ir, voltei…
Lá na cancela
do xaxim desencantado
mora a bruxa Taroena
de chinela e de chinó.
Saci-pererê,
duende encantado,
mãozinha furada,
barrete encarnado.
Há tempos que há muito se foram,
dois índios amigos viviam
em busca da caça e da pesca
e todos os seus bens repartiam.